Círculos de ovelhas

Não é trigo. Não são cogumelos. Não é um canavial. Mas são ingleses. Ou melhor. São ovelhas inglesas . A foto e o “mistério” foi divulgado inicialmente em janeiro deste ano pelo DailyMail, mas há pouco o mesmo tablóide publicou um outro “mistério”. Com ovelhas.

Na primeira nota, o tablóide explora o inusitado, na segunda louva os cãos pastores, que teriam garantido que as dezenas de criaturas de lã formassem a mensagem comemorando a primavera, “spring”.

Mas pode haver uma explicação mais simples para os dois casos. Algo similar às formigas semi-analfabetas, bastaria lançar ração sobre o campo e, de fato com um pouco de disciplina e paciência, se conseguiriam de círculos a mensagens mais complexas. Usar apenas disciplina com cães pastores não deve ser impossível, mas não parece a forma mais simples de conseguir o mesmo resultado. É, contudo, uma notícia mais adorável para vender jornais.

A associação dos “círculos de ovelhas” com sinais em plantações não é mero sarcasmo deste blog cético, contudo. Como William Corliss notou em Science Frontiers, em 1989 Terence Meaden publicou no Journal of Meteorology uma carta contendo o relato de nada menos que um círculo de ovelhas. A referência é “Ovelhas em rebanhos circulares: Há uma conexão meteorológica ou de algum outro tipo?”.

É exatamente o mesmo Meaden que ao longo do resto dos anos 1990 seria muito citado como defensor da “autenticidade” dos círculos ingleses, que ele acreditava serem produto de bizarros vórtices meteorológicos. O aumento de complexidade e as mensagens claramente humanas dos círculos gradualmente tornaram sua hipótese um absurdo evidente, como ele mesmo acabou admitindo, embora persistisse na crença de que os círculos originais e mais simples ainda poderiam ser “autênticos”.

Caso se limitasse a canaviais, ao menos, Meaden estaria mais próximo de uma explicação razoável. Já ovelhas…