A verdade sobre os monstros imaginários

[original em Fogonazos, tradução gentilmente autorizada. English version]

Perdidos na noite dos tempos, os primeiros homens devem ter se encontrado com restos de criaturas cuja forma e tamanho não foram capazes de interpretar. Durante séculos, a mente dos humanos foi dando forma àqueles achados até elaborar um catálogo de seres fantásticos para os quais a paleontologia hoje dispõe de uma completa explicação. “Criaturas Míticas: Dragões, Unicórnios e Sereias” é o título de uma interessante exibição que o Museu Americano de História Natural expõe estes dias em Nova Iorque, e que trata de pôr ordem naquele mundo de monstros imaginários. A seguinte entrada pretende ser um singelo e esquemático resumo de tão apaixonante questão.

1. Ciclopes e elefantes

Em 1924, enquanto investigava pelas ilhas do Mediterrâneo, o paleontologista da Universidade de Viena, Othenio Abel, descobriu a existência de uma espécie de mamutes anões na zona cujos crânios possuíam um grande orifício na zona frontal. Interessado pelos relatos de Homero, o professor Abel chegou à conclusão – hoje amplamente aceita – de que aqueles crânios haviam induzido os gregos a acreditar na existência de seres de grande tamanho providos de um único e enorme olho frontal: os ciclopes.

2. Dinossauros e dragões

Sobre as extensas planícies do deserto de Gobi, os primeiros moradores da Mongólia devem ter descoberto as enormes colunas vertebrais dos velociraptores, ainda abundantes na zona. As formas alargadas dos fósseis provavelmente induziram os chineses a acreditar na existência de gigantescas criaturas em forma de serpente que hoje em dia conhecemos como dragões. A crença nestes seres se estendeu também para a Europa onde, em pleno século XIV, a localidade austriaca de Klagenfurt ainda exibia em sua praça principal o crânio de um rinoceronte da idade do Gelo como se se tratasse da cabeça de um dragão.

3. Sereias e peixes-boi

Influenciados pela visão de vacas marinhas e peixes-boi, os marinheiros de todas as épocas acreditaram distinguir entre as águas a figura de belas sereias. Em 1493, enquanto navegava perto do Haiti, o próprio Cristóvão Colombo relatou a visão de três sereias e anotou em seu diário que, vistas de perto, aquelas criaturas não pareciam tão formosas como eram descritas.

4. Unicórnios e narvais

Durante muitos anos, os chifres de narvais capturados em águas do Ártico circularam pelas cortes européias medievais como a prova irrefutável da existência dos unicórnios. Seu chifre, comprido e torneado, era apreciado por seu poder simbólico e por possuir todo tipo de propriedades mágicas e curativas.

5. Protoceratops e grifos

O mítico grifo – animal com corpo de leão e cabeça de águia – foi amplamente descrito por autores como Heródoto, Ésquilo ou Plínio o Velho, que o localizavam nas montanhas dos escitas, onde guardavam ferozmente o ouro. A semelhança física do grifo com os restos do Protoceratops encontrados na zona não resiste comparação.

6. Monstros marinhos

Até meados do século XVI numerosas cartas de navegação incluíam ilustrações que advertiam aos marinheiros sobre a presença de distintos monstros do mar. Peixes gigantescos e criaturas capazes de mandar um navio a pique de uma só vez figuram em alguns dos mapas que sobreviveram, embora possivelmente o mais conhecido e temível seja o Kraken, o horrível monstro que – conforme sabemos hoje – pôde ter sido inspirado pelo avistamentos de lulas gigantes em alto mar.
[Original de Fogonazos, indicado por Marcus VBP]