Os Olhos que Falavam

por Martin Kottmeyer, publicado em REALL News de julho de 1994

Em seu último livro, Aliens From Space (Aliens do Espaço), Donald Keyhoe recontou brevemente seu envolvimento no início das investigações de Barney e Betty Hill que eventualmente levaram à publicação de John Fuller “A Viagem Interrompida”, o primeiro grande trabalho do mito de abdução alien. Keyhoe estava mistificado mais do que ninguém pelas faces repugnantes dos aliens. As cabeças tinham um formato estranho sem orelhas e narizes e bocas comprimidas. O pior de tudo eram longos olhos oblíquos que se estendiam pelo lado da cabeça criando uma aparência sinistra. “O que causou as mentes subconscientes destas duas pessoas a criar estas imagens de suas imaginações nunca foi completamente explicado”. [1]

Keyhoe não pôde aceitar o caso 100%, ele posteriormente admitiu em uma entrevista em 1975, mas tampouco o rejeitou. Como todos mistérios, a questão de Keyhoe parecia seguramente retórica. Quem sabe por que qualquer pessoa sonha com um monstro e não com outro? Como qualquer pessoa podia mesmo começar a investigar tal problema?

O que não podia ter sido previsto era como o acaso poderia entrar em cena para resolver este mistério menor. A estação de TV local da PBS decidiu há alguns anos passar reprises da antiga série de TV “The Outer Limits” [NdoT: “A Quinta Dimensão”, versão original transmitida aqui no canal a cabo MGMgold]. Era um dos programas mais visualmente impressionantes de minha juventude, e eu o sintonizava ansiosamente para experimentar mais uma vez visões tais como os renegados Zanti, a garota abelha, moonstone, a invasão iônica da Fronteira, a máquina do tempo de “Experimento Controlado” e a evolução de David McCallum em um mega-cérebro.

Foi durante a reprise do episódio “O Escudo Bellero” [The Bellero Shield] que eu senti um estranho frisson de deja vu. Os olhos do alien eram incomumente longos e oblíquos, estendendo-se para o lado da face. Rapidamente me dei conta de que esses olhos eram exatamente como os olhos oblíquos que foram desenhados em “A Viagem Interrompida” – e o desenho posterior e mais detalhado que os Hill fizeram em colaboração com o artista David Baker. [2] Embora eu não pudesse articular naquele instante, havia outras similaridades que haviam contribuído para a impressão de uma relação íntima: nenhuma orelha, cabelo, nariz e um crânio com a forma de uma bala inclinada para trás 45 graus. Eu estava excitado com a possibilidade de uma identidade aqui porque eu estava razoavelmente certo de que havia poucos ou nenhum outro exemplo de aliens com olhos oblíquos no cinema de ficção científica. Momentos depois entretanto minha excitação foi subjugada. Percebi que a série “A Quinta Dimensão” era do meio dos anos sessenta e o caso dos Hill datava do começo dos anos sessenta – 1961 ou 1962. “O Escudo Bellero” não podia ter sido uma influência. Apesar disso, o livro foi publicado em 1966. O atraso poderia ser significante?

Depois que o programa acabou, eu revirei minha biblioteca por uma noite de pesquisa. “O Escudo Bellero” foi transmitido em 10 de fevereiro de 1964. O encontro UFO dos Hill ocorreu na manhã de 20 de setembro de 1961. Isso deveria provavelmente ter eliminado a idéia de qualquer tipo de influência, mas a semelhança era tão convincente que eu não pude abalar o sentimento de que deveria haver uma relação. Eu reli “A Viagem Interrompida”. Para meu deleite descobri que não havia menção de olhos oblíquos no primeiro relato. Os sonhos de Betty, escritos alguns dias depois do avistamento UFO, mencionam homens com narizes de Jimmy Durante, cabelo e olhos escuros e uma tranqüila aparência humana que ela disse que “não era assustadora”. Isto é bem diferente do produto final. As mudanças emergem na regressão hipnótica do Dr. Simon. A questão mais saliente era saber quando os olhos oblíquos foram descritos pela primeira vez. Isso ocorreu durante a sessão de hipnose envolvendo barney datada de 22 de fevereiro de 1964. Não apenas “O Escudo Bellero” precede a primeira menção de olhos oblíquos, ele o faz em apenas 12 dias! Eu estava imensamente satisfeito.

Em seguida eu encomendei o roteiro do programa, meus pensamentos estavam tão distraídos que eu perdi o diálogo. Isso rendeu evidência adicional para uma relação. Judith, interpretada por Sally Kellerman, está conversando com o alien Bifrost e pergunta se ele pode ler sua mente. Ele responde “Não, eu não posso ler sua mente. Eu não posso nem mesmo entender sua língua. Eu analiso seus olhos. Em todos universos, em todas unidades além de todos os universos, todos têm olhos, têm olhos que falam…” Judith, intrigada, pergunta como ele fala sua língua. Ele elabora, “Eu aprendo cada palavra pouco antes de você dizê-la. Seus olhos me ensinam”. [3]

Ao dizer que todos olhos falam, o alien Bifrost está contando uma verdade e simultaneamente esquivando-se do problema da barreira de linguagem entre humanos e alienígenas através de um toque único de licença poética.

Na mesma sessão de hipnose na qual Barney desenhou olhos oblíquos, há este exercício em confusão: ‘Sim. Eles não falam comigo. Apenas os olhos estão falando comigo. Eu-eu-eu-eu não entendo isto. Oh – os olhos não têm um corpo. Eles são apenas olhos…” [4] A confusão de Barney sobre olhos falantes é uma que a maior parte dos espectadores partilhou sobre o recurso do escritor usado pelos criadores do episódio. A noção partilhada dita de que olhos podem falar desafia a desconsideração através de ordinariedade ou coincidência. Por qualquer medida, o caso por uma influência aqui não é apenas satisfatório, é exemplar. Pelo menos um pesquisador de abdução concordou com este ponto. [5]

A descoberta desta pseudo-memória não irá chocar peritos em hipnose. Eles estão cientes há muito tempo do perigo de confabulação no trabalho de regressão. Não havia razão para esperar que a narrativa de “A Viagem Interrompida” fosse imune de tal contaminação. Tarde demais, a questão de Keyhoe portanto é respondida com o corolário mundano de que Barney assistiu a série de ficção-científica “A Quinta Dimensão” pouco antes que seu subconsciente fosse chamado para imaginar como um alien amedrontador deveria parecer. Os aliens dos sonhos de Betty eram muito normais para justificar o medo que ele mostrou durante a experiência UFO original.

A confabulação de Barney tem outras repercussões interessantes. Como Thomas E. Bullard notou, “olhos oblíquos” é um termo que se tornou comum na literatura de abdução. [6] Caso após caso pode ser apontado de pessoas descrevendo abdutores aliens com olhos que se alongam, enrolam-se ou se envolvem pela cabeça. Alguns que entusiastas de UFOs podem reconhecer incluem: Carol Wayne Watts, 1967; “Banda de Rock Canadense Abduzida”, 1971; o contato de David Delmundo em 1972 com o Ohneshto de turbante; a abdução Langenargen de 1977 (um grande caso alemão); o Caso Andreasson; Harrison Bailey; A conexão Dakota do Sul (MUFON, Março 1983); Paris Colorado; as abduções Mirassol; “Jennifer”; Tom Holloway, D.D.S. (em Boylan, 1994). [7] Outras existem, mas isto deve bastar para indicar a natureza influente do caso Hill na história das im agens de experiências de abdução. Antes dos Hill, olhos oblíquos pareciam largamente, provavelmente totalmente ausentes na literatura UFO. Aliens cinematográficos com olhos oblíquos são igualmente largamente ausentes. Mas não totalmente. Eu eventualmente descobri mais um caso. É um mutante sem nome no filme Cérebro Maligno do Espaço Exterior [Evil Brain from outer Space], um filme japonês importado em 1964. Curiosamente, um dos líderes da Projects Unlimited que forneceu os monstros para “A Quinta Dimensão” era chamado Wah Ming Chang. Ele era um escultor talentoso e projetou a maioria das esculturas de cabeça para a série. Isto pode indicar as raízes culturais no mito Oriental ou teatro Kabuki, mas eu não estou preparado para seguir a trilha pela distância para provar isso.

O tema de olhos falando não repetiu a popularidade de olhos oblíquos. Há um exemplo nos Encontros de Edith Fiore. A abduzida chamada Victoria descreve aliens comunicando-se simplesmente olhando uns aos outros. É tentador especular que as práticas de ligação alien envolvendo o fitar de olhos em “A Vida Secreta” são descendentes dos olhos falantes de Barney, mas há muitos fatores complicadores como pistas fortes de que a fusão de mente Vulcana em Star Trek e um rico grupo de simbolismos psicológicos em olhos que fitam, como amor, intimidade, supervisão, descaso e predadores parecem caminhos mais compensadores de interpretação. A escassez de olhos falantes provavelmente reflete a natureza pobre da memória verbal comparada com a memória visual. A natureza confusa da idéia de olhos falando provavelmente não ajuda. Pode ser também que olhos repugnantes têm um papel definidor na criação de uma iconografia inspiradora de paranóia. Como Keyhoe aparentemente percebeu, eles são mais convincentemente aliens. Os olhos dizem ‘Eles’.

Ao teórico psicossocial, os olhos sussurram ‘Nós’.

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Notas
1- Keyhoe, Donald. Aliens from Space. Doubleday, 1973, pp. 243-5.
2- “New Drawings of Hill Abductors,” UFO Investigator (April 1972), pp. 3-4.
3- Scene 24
4- Fuller, John. The Interrupted Journey. Dell, 1966, p. 124.
5- Bullard, Thomas E. “Folkloric Dimensions of the UFO Phenomenon,” Journal of UFO Studies #3, 1991, p. 40.
6- Bullard, Thomas E. UFO Abductions: The Measure of a Mystery FFUFOR. 1987, p. 243.
7- Kimery, Tony L. “Carroll Wayne Watts – Contactee, Hoaxer of Innocent Bystander,” Official UFO, 1, #11, October 1976, p. 33. FSR 29, #3 Stevens, Wendelle. UFO Contact from Undersea. Stevens, 1982, p. 148. Schneider, Adolf & Illobrand von Ludwiger. “Brilliantly Shining Objects and Strange Figures in Langenargen” in Interdisciplinary UFO Research, MUFON-CES Report #1, 1993, p. 142. Andreasson Affair, p. 25. Rogo, p. 130 MUFON Journal. March 1983, p. 3. UFO Contact from the Reticulum Update, p. 341. UFO Abduction at Mirassol, p. 298. J. of UFO Studies #3 , 1991, p. 100. Boylan, Richard J. & Lee K. Close Extraterrestrial Encounters. Wilflower, 1994, p. 99.

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