O Chupacabras ou o Frankenstein da mídia

Luis Ruiz Noguez, publicado em MarcianitosVerdes
tradução gentilmente autorizada

Na Idade Média todo bom europeu acreditava em bruxas. De fato aqueles que eram incrédulos corriam o risco de serem queimados na fogueira como hereges. No século passado a literatura gótica disseminou o mito do vampiro. Mito que germinou em uma época e em um público de escassa cultura. Com a chegada do cinema a história dos vampiros se vulgarizou e isso fez com que perdesse parte de seu misticismo. As pessoas, pelo menos no México, deixaram de acreditar nessas histórias quando viam El Santo ou o Blue Demon lutar com uns vampiros ridículos e risíveis. Em outras partes do mundo perdeu-se o medo dos vampiros quando se soube que existia uma enfermidade, a protoporfiria, cujos sintomas podiam explicar o vampirismo. Também se soube que o Drácula histórico, Vlad Tepes, embora tivesse um afã desmedido pelos empalamentos, não possuía incisivos pontiagudos e muito menos sugava o sangue de suas vítimas.

Considero que na atualidade apenas poucas pessoas seguem acreditando na existência de um conde da Transilvânia que pelas noites, com a ajuda de sua capa, voa até uma jovem donzela para lhe sugar o sangue através de suas duas presas hiperdesenvolvidas. O problema é que o vampiro real, o animal, embora esteja munido dessas presas, não as usa como canudos para chupar sangue; sua utilidade é produzir uma ferida através da qual emanará o sangue que posteriormente lamberão. Só algumas víboras, como a cascavel, possuem presas ocas, mas estas tampouco são usadas como canudos para sugar. Sua função é injetar o veneno com o qual paralisam a suas vítimas.

Se o mito dos vampiros é considerado atualmente só isso, podemos dizer que se trata de um mito em decadência. No caso dos OVNIs não ocorre o mesmo. Nas décadas de 50, 60 e 70, a percentagem de pessoas que acreditava nos OVNIs, segundo algumas pesquisas Gallup, era próxima a 20%. Hoje cresceu graças à influência dos meios de comunicação, e é muito provável que seja superior a 50%.

A GÊNESE DO CHUPACABRAS

A origem deste novo mito não se encontra, como muitos disseram, na pequena ilha de Porto Rico. Teremos que remontar ao estado do Colorado, mais precisamente a Alamosa, aonde em 1967 apareceu mutilado o famoso cavalo que passou à literatura ufológica com o nome de Snippy. Como deste caso nos ocuparemos em outro artigo, saltaremos até a década de 1970. Durante esses anos em vários estados da União Americana se deram diversos casos de animais mutilados, especialmente gado, por supostas entidades extraterrestres.


O cavalo "Snippy", 1967

Desde os primeiros relatos que se estudaram cientificamente se pôde encontrar uma explicação racional a este fenômeno. Esta explicação nunca foi tomada em conta pelos meios de comunicação, especialmente pelas revistas ufológicas. Vejamos alguns dos primeiros estudos.

A senhora Nancy H. Owen, antropóloga do Departamento de Antropologia da Universidade de Arkansas, em Fayetteville, recebeu em 1978 uma subvenção da Arkansas Endowment for the Humanities (AEH) para levar a cabo um estudo sobre as mutilações que se produziam no Arkansas. Seu estudo se limitou ao condado de Benton. A AEH solicitou publicamente ao governador de Arkansas a criação de uma comissão investigadora, e o governador pediu que fora o pessoal da Universidade de Arkansas quem fizesse o estudo. Algumas de suas descobertas foram:

– Pelo menos em um caso, as análises feitas por um toxicólogo funcionário do estado de uma amostra de líquido pericardial (serosidade segregada pelo pericárdio), denuncia a presença de mezcalina, uma droga alucinógena extraída do peyotl ou peyote, planta cactácea de origem mexicana. Na página 196 de seu relatório, Kenneth M. Rommel havia notado a presença de hippies acampando no setor concernente a este caso.

– Descobriu-se que um policial falsificou os relatos para tornar mais enigmáticos os acontecimentos.

– Os veterinários do estado jamais fizeram menção a lesões de caráter cirúrgico em seus relatos de autópsia. Só os boiadeiros mencionavam esses “cortes cirúrgicos”.

O Dr. James R. Stewart, sociólogo do Department of Social Behavior da Universidade do Dakota do Sul, no Colorado, fez em 1975 um estudo sobre as mutilações de gado produzidas nesse estado em 1974. Atualizou-o em abril de 1980, para ser publicado no relatório de Kenneth Rommel. Stewart disse que só dois veterinários se envolveram no estudo das mutilações.

Dentre os primeiros estudos e necrópsias realizados nestes animais se constatou que as mortes tinham sido devidas a coiotes (Canis latrans). O patologista que fez as autópsias informou que estes animais são capazes de fazer cortes limpos e nítidos como os que faria uma faca afiada. Em outro caso o veterinário informou que a morte foi devida a uma raposa avermelhada (Vulpes fulva).

No relatório da Universidade do Dakota do Sul, página 247, encontramos a carta de um diretor do laboratório de ciência animal dependente da universidade, que diz:

“Em cada caso, pudemos estabelecer que as partes faltantes foram levadas por animais predadores”¦
Somos conscientes que em nenhum caso pudemos demonstrar que as partes faltantes tivessem sido tiradas por um ser humano”¦
É certo que o animal predador, quando rasga ou tira uma pele, deixa as bordas muito similares às que poderiam ter sido feitas por um instrumento cirúrgico”¦
Em todos os casos pudemos estabelecer a evidência de que os animais predadores tinham relação com os restos faltantes de animais mortos de alguma causa natural…”

Rommel utilizou os informes de Owen e Stewart e publicou um relatório de 279 páginas. Nele fala dos necrófagos, animais que se alimentam de carniça. Na página 34, por exemplo, menciona o caso de um corvo observado em Manitoba, Canadá, que despedaçou um réptil e lhe tirou o fígado “de uma maneira extremamente prolixa, sem tocar o resto. Só a pele estava furada na região do fígado. Como este corvo fez um trabalho de cirurgia com tanta precisão, é um mistério”.

Rommel chega à conclusão de que tudo tem uma causa natural, sejam predadores, atividade humana (seitas, hippies, fraudadores, etc.), mortes dos animais por causas naturais e abusos da publicidade nos meios de comunicação que criaram uma histeria no público.

Em um artigo do ufólogo francês Jean Sider, traduzido pelos ufólogos argentinos José Luis Di Rosa e Graciela Iliev, encontramos mais informação a respeito. Vejamos só três exemplos:

Em 1983 se deu uma série de mutilações em cavalos. Os animais eram sempre machos, aos
que lhes tinham talhado o pênis, com abundância de sangue. Tratavam-se de atos cometidos por um maníaco sexual que tinha sido visto por várias pessoas correndo atrás de um alazão com uma faca na mão.

Os cientistas da Universidade de Brookins afirmaram que os animais predadores eram os únicos culpados das mutilações.

O Colégio de Medicina Veterinária da Universidade do Colorado, de Fort Collins, realizou 19 autópsias entre julho de 1975 a janeiro de 1976. Nove casos foram atribuídos à ação de um instrumento cortante e os dez restantes concerniam a animais mortos por causas naturais.

Do anterior podemos concluir que as tão famosas mutilações de animais que ocorreram (e seguem ocorrendo) nos Estados Unidos têm uma explicação natural.

Agora bem, a relação com os OVNIs e este fenômeno foi quase exclusivamente circunscrito ao território dos Estados Unidos. Conhecem-se muito poucos casos em outros lugares do mundo, e só Porto Rico, estado livre associado, não apresentou nenhum caso de mutilação de animais. Mas isto logo se remediaria. Os porto-riquenhos não eram cidadãos americanos de segunda e também eles tinham o direito de ter seus animais mutilados.

O VAMPIRO DE MOCA

E isso ocorreu pela primeira vez em 25 de fevereiro de 1975 no povoado de Moca. Foi o jornal El Vocero quem difundiu amplamente os casos e batizou o predador com o nome de "O Vampiro de Moca”. Surge então a crença popular de que são “morcegos vampiro” os causadores das mortes dos animais. Em todos os casos há certos padrões:

– As feridas parecem ser produzidas por uma espécie de punção ou instrumento cortante, que destrói a seu passo os órgãos vitais. No caso das aves tem um diâmetro ao redor de 6,4 milímetros, e no das cabras de mais de 25,4 milímetros.

– A localização da ferida variava, embora em sua maioria estivesse no pescoço ou peito do animal.

– Todos os casos ocorreram de noite, preferivelmente em horas da madrugada.

Os membros da Comissão de Agricultura do Senado e o Comando da Polícia especularam que o causador fosse um ser humano desequilibrado ou uma seita satânica.

Sobre esta última hipótese o mesmo Allen Hynek escreveu:

“A imprensa especulou que os OVNIs são de alguma forma responsáveis pelas mutilações de gado que estiveram acontecendo em algumas áreas dos Estados Unidos. Não existe nenhum relato documentado em que a observação de um OVNI esteja diretamente conectada com uma mutilação de gado. Investigou-se o problema e através de um relatório governamental confidencial, descobriu-se que um “culto satânico” é responsável por algumas das mutilações. O relatório deve permanecer confidencial, já que não se realizaram prisões em todos os casos e as fontes de informação devem ser protegidas. Deveria fazer-se notar que, freqüentemente, em cabeças de gado que se disse que tinham sido “mutiladas” se descobriu, depois da autópsia, que tinham morrido por causas naturais e foram vítimas de outros animais predadores”.

O Vampiro de Moca não voltou a fazer das suas a não ser até quase vinte anos depois. Em dezembro de 1994 se receberam os primeiros relatos do povoado de Orocovis e Corozal, no centro da ilha de Porto Rico, e posteriormente em Canovanas (costa norte), Fajardo e Gurabo (leste) e Alaranjado (centro). Também foi visto em Lajas e Bellavista no Ponce.

Nesta ocasião os jornalistas utilizaram um nome com maior penetração na população: Chupacabras. Era a primeira vez que se utilizava tal apelativo. E o êxito não se fez esperar, logo todos na ilha falavam desse “animal”.

Não obstante nos primeiros relatos as testemunhas não ficavam de acordo com a descrição. Falava-se de criaturas com estaturas que iam de 0,90 a 1,80 metros. Os braços eram descritos como largas pinças de caranguejo, ou braços pequenos com mãos palmadas de três dedos. Alguns diziam que a cabeça era redonda, mas outros afirmavam que era alargada, em forma de pêra. De acordo com algumas testemunhas as pernas do ser eram parecidas com as dos répteis, mas outros afirmavam que se pareciam mais às das cabras. O Chupacabras tinha os olhos grandes e vermelhos, e uma espécie de escamas pontiagudas em suas costas que parecem membranas que trocam de cor do azul ao verde, vermelho, púrpura, etc. Outros lhe tinham visto o corpo completamente coberto de pêlo negro.

Tampouco havia concordância na forma de se mover. Dizia-se que era capaz de correr muito rapidamente e subir árvores e saltar mais de 6 metros. E por outro lado se afirmava que tinha as patas atrofiadas; e era incapaz de caminhar, muito menos de correr, por isso se deslocava voando.

Logo, conforme foi passando o tempo e o povo do Porto Rico foi conhecendo mais descrições do Chupacabras, os jornalistas publicaram alguns esboços e estes foram tomados como modelo para futuros testemunhos. Uma vez postas de acordo, todas as descrições a partir daí foram as mesmas. Isto mesmo está ocorrendo no México, como se verá mais adiante.

O sensacionalismo se apoderou dos meios de comunicação:

– Disseram que haviam capturado dois espécimes do Chupacabras, nos dias 6 e 7 de novembro de 1995. Um deles no povoado de São Lorenzo e o outro no Parque Nacional El Yunque. Ambos estavam vivos e se supõe que foram levados aos Estados Unidos por pessoal militar perfeitamente treinado.

– Os periódicos de Porto Rico lançaram a teoria de que os Chupacabras eram extraterrestres que tinham criado o vírus da AIDS para destruir a raça humana e conquistar o planeta Terra.

– Afirmou-se que se tratava de manipulações genéticas altamente sofisticadas.


ENIGMA!

Um dos casos mais sensacionais foi o do policial que em 1 de outubro de 1995 disparou sobre um Chupacabras que voava sobre Campo Rico em Canovanas. Dois dias depois se viu, talvez, o mesmo ser quando saltava sobre uma cerca fabricada com malha ciclônica. Os fatos ocorreram às 9:00 da noite, e na cerca e em uma árvore próximos se encontraram rastros de sangue que foram enviados a um laboratório.

Na análise se descobriu que se tratava de sangue humano tipo A com Rh positivo. O sangue estava contaminado com detritos ou restos fecais que continham bactérias E. Coli, vermes e outros parasitas, além de células vegetais. Era mais que provável que se tratasse dos restos deixados por um ilhéu com uma forte infecção intestinal.

– As feridas deixadas nos animais eram pequenos furos de 6,4 a 12,8 milímetros de diâmetro, que se apresentavam às vezes em pares ou em formação triangular sobre os pescoços e mandíbulas das vítimas. Pareciam feitos com pica-gelos ou com outra ferramenta de furo cortante.

As autoridades médicas também deram sua opinião. O Diretor da Divisão de Serviços Veterinários do Departamento de Agricultura de Porto Rico, o senhor Héctor García declarou que:< /p>

“Podem ser cães já que as pequenas punções que se observam nos pescoços das vítimas são similares às produzidas pela mordida dos cães”.

Outro veterinário, Angel Luis Santana, da Clínica Veterinária Gardenville, em San Juan, informou que:

“Podem ser seres humanos que pertencem a seitas religiosas. Também poderiam ser animais ou até tipos que desejam brincar com a credibilidade das pessoas”.

As teorias que se embaralharam foram do ataque de matilhas de cães selvagens, mandris ou animais exóticos introduzidos ilegalmente à ilha, até ritos relacionados com a santeria, um culto de origem africana que inclui o sacrifício de diversos animais até sangrá-los.

A este respeito terá que se fazer notar que a área do Caribe é o berço de diversas religiões, como a santeria, a macumba, o vodu, o candomblé, etc., todas elas relacionadas com sacrifícios de animais, principalmente cabras. Não é difícil imaginar que os primeiros casos se podem assimilar a este tipo de ritos e que posteriormente, devido à psicose gerada pelos meios de comunicação, qualquer suposta “anomalia” entre os animais (ataques de predadores, mortes naturais, brincadeiras macabras, revanches e vinganças, etc.) fosse atribuída ao chupacabras. Quem sabe?

O fato é que até esse momento o fenômeno Chupacabras era unicamente local de Porto Rico. Entretanto isso não ia durar muito. Em finais de 1995 o programa sensacionalista Inside Edition, da televisão americana, realizou uma reportagem sobre o Chupacabras. Os jornalistas americanos riram e trataram de ridicularizar a situação. Não obstante pouco depois outros programas fizeram suas próprias investigações: Hard Copy, Encounters, Ocurrió Asi e Primer Impacto.

Não era de se estranhar que pouco depois que os programas fossem transmitidos da Flórida, se apresentassem os primeiros relatos do Chupacabras na América continental, precisamente na Flórida. Logo os relatos se estenderiam a outros países do continente: Venezuela, Guatemala, Colômbia, Honduras, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Estados Unidos e finalmente o México.

O que têm em comum estes países? Todos eles têm costas no Mar do Caribe, precisamente aonde se encontra localizada a ilha de Porto Rico. Todos eles têm um forte intercâmbio cultural, comercial e turístico com a ilha. E a todos estes países chega o sinal desses programas sensacionalistas. Por que não se relataram Chupacabras em El Salvador ou no Belize? Talvez porque o primeiro país só tem costas no Pacífico e no segundo exista a barreira do idioma.

Embora não tenha sido o ufólogo Jorge J. Martín quem inventou o mito do chupacabras, sim foi ele quem mais o difundiu não só no Porto Rico, mas também em diversas partes do mundo. Martín é bem conhecido por impulsionar diversas fraudes ufológicas como a de Majestic 12, as fotografias trucadas de Amaury Ribera, o pássaro serpente de Gurabo, as fotografias do extraterrestre mumificado, etc.


ORIGEM ETIMOLÓGICA?

Existe uma origem etimológica na palavra chupacabras?

Alguns fazem remontar sua origem a tempos bíblicos. Falam que este animal já foi descrito no Apocalipse de São João. Em realidade nesse livro não se menciona nada sobre o assunto, como tampouco no resto da Bíblia. Entretanto, no livro de Isaías (na parte apocalíptica do mesmo) menciona-se um monstro feminino chamado Lilith, que em algumas versões da Bíblia se traduziu como Chotacabras em espanhol (note, não é Chupacabras). Em efeito Isaías descreve o fim da velha ordem e a chegada de um mundo novo e ideal. Em Isaías 34.11 se diz:

“Apropriar-se-ão dela (da Terra) o pelicano e o ouriço, a coruja (Lilith ou o Chotacabras) e o corvo morarão nela; e se estenderá sobre ela cordel de destruição, e níveis de assolamento”.

A palavra hebraica que se traduz aqui como coruja é Lilith e é o nome que se dava ao monstro da noite. Esta palavra também se traduz como “fantasma que espanta de noite” e “chotacabras”. Deriva-se de Lilitu, nome que se dava na mitologia babilônica, que por sua vez provém da palavra semítica para a “noite”.

A escuridão sempre assustou o homem, quem em sua imaginação a povoou de seres monstruosos e de ruídos estranhos. O homem moderno esqueceu um pouco todo este medo pelas sombras noturnas devido ao uso da luz artificial. Embora nem todos esqueçam seus velhos atavismos: temos por exemplo os ufólogos que seguem encontrando monstros na noite.

Lilith, na tradição rabínica, foi a primeira esposa de Adão, muito antes que Eva fosse criada. Adão não pôde suportar Lilith porque esta era muito ardilosa (ou talvez ela não pôde suportá-lo porque era muito aborrecido), e esse foi o motivo de sua separação. Ela se transformou em um demônio da noite que, de acordo com certas lendas, aliou-se com a serpente para fazer Adão e Eva pecar.

Isaías, capítulo 34, versículo 14, diz:

“As feras do deserto se encontrarão com as hienas, e a cabra selvagem gritará a seu companheiro; a coruja também terá ali morada, e achará para si repouso”.

Chotacabras é o nome comum que se dá a diversas aves da família caprimúlgido, da ordem caprimulgiformes. O chotacabras cinza (Caprimulgus europaeus) mede 25 centímetros e apresenta uma coloração parda e manchada de cinza que lhe permite camuflar-se perfeitamente no terreno; tem o bico muito curto, mas pode abrir muito as fauces. Durante o dia permanece posado nos ramos na direção destas; desdobra sua atividade durante a noite perseguindo mariposas noturnas; não constrói nenhuma classe de ninho, e deposita os ovos no chão. São encontrados em diversas partes da América, inclusive em Porto Rico. O chotacabras pardo (Caprimulgus rupicollis), um pouco maior, apresenta um colar avermelhado no pescoço e é de distribuição mais meridional. Caracteriza-se por apresentar a abertura bocal muito larga, olhos grandes, pés de reduzido tamanho e cauda larga. A plumagem é muito abundante, com colorações miméticas. Em geral são noturnos e possuem grande manobrabilidade quando perseguem suas presas. A plumagem suave das asas lhes permite um vôo silencioso.

Uma antiga lenda indica que o chotacabras mamava o leite das cabras. Uma versão da origem desta lenda diz que o chotacabras pode abrir a boca de maneira tão ampla que poderia mamar das úberes das vacas e cabras. Outra, talvez a mais acertada, afirma que o nome se deve a que o animal produz um som similar ao de uma cabra mamando. De fato a palavra choto ou chota é dada à cria da cabra enquanto mama. Trata-se de um termo onomatopéico do som que estes animais produzem ao mamar.

Os jornalistas porto-riquenhos não se c
omplicaram com todas estas etimologias e simplesmente trocaram o “chota” por “chupa”, e daí nasceu o Chupacabras.

Há um detalhe mais. O pássaro serpente de Gurabo, de que falamos mais acima, foi outra das fraudes que J. J. Martín impulsionou. Em suas revistas publicou uma fotografia do animal. A fotografia representa nem mais nem menos um chotacabras cinza, e a descrição que a testemunha que o encontrou fornece também se ajusta a de um chotacabras. O único detalhe que não concorda com a morfologia deste animal são as duas “presas” tipo víbora de cascavel que, muito provavelmente como se disse, são um par de esporões de galo incrustados na boca do animal.

No México, em especial no Sudeste, também existem velhas tradições de animais mitológicos noturnos que poderíamos aparentar com a lenda do Chotacabras. Está, por exemplo, o Kakasbal que voava de noite alimentando-se dos animais. O Uay Cen, que era o nagual de um bruxo que tomava a forma de um felino pequeno e se introduzia pelas noites nas casas para extrair o sangue dos que estavam dormindo. E o Huaychivo das lendas maias.

A CHEGADA DO CHUPACABRAS AO MÉXICO

Depois que os noticiários sensacionalistas dos Estados Unidos noticiaram a aparição do Chupacabras na Flórida, fazendo mais caso à imaginação que à realidade, no México, com a falta de outras notícias, Jacobo Zabludovski transmite os primeiros informes do “animal” (os casos da Flórida). Esse seria o detonante da onda mexicana de Chupacabras. O jornalista de 24 Horas conhecia a tendência dos mexicanos pela fascinação misteriosa dos mitos. Tinha apostado nela e ganhou.

Logo o Chupacabras ocupou maiores espaços nos meios de difusão e nas conversas de café que os tema críticos, como o das carteiras vencidas.

A presença da estranha criatura se inicia em fevereiro, em Tijuana, onde começaram a aparecer novilhos e cabras massacrados no interior de seus currais, como se seus corpos tivessem sido cortados com um facão e com dois ou três pequenos buracos no pescoço.

Dos 32 estados que formam a República Mexicana, surgiram relatos em 19, atacando a humanos, vacas, novilhos, cães, gatos, porcos, galinhas e pombas. Baja California Norte, Coahuila, Chiapas, Chihuahua, Distrito Federal, Durango, Estado de México, Hidalgo, Jalisco, Michoacán, Nayarit, Nuevo León, Puebla, Querétaro, Sinaloa, Sonora, Tabasco, Tamaulipas e Veracruz. Até este momento, sexta-feira 17 de maio de 1996, contabilizei um total de: 692 novilhos, 168 galinhas, 104 cabras, 102 pombas, 36 néscios, 10 porcos, 8 vacas, 8 gatos, 8 coelhos e 2 cães. Quer dizer, 1138 animais, sendo as cabras apenas 9% do total, enquanto que os novilhos cobrem quase 61%, por isso o monstro devia se chamar Chupanovilhos em lugar de Chupacabras.

No México está acontecendo o mesmo que ocorreu originalmente em Porto Rico. Como ninguém sabe como é um Chupacabras, as descrições das testemunhas são contraditórias entre si. Isto não ocorreria caso se tratasse de um ser real e não do que é: um mito. Algumas das características relatadas são:

Altura: descreve-se um ser de 40, 50 (rancho La Chocona) 60, 70, 100 (caso Teodora Ayala), 130, 150, 160 e 180 centímetros. Embora estes dados possam se dever ao Chupacabras em seus diferentes estágios de desenvolvimento, duvido muito que bebês chupacabritos (40, 50 e 60 centímetros de altura) andem por aí fazendo das suas.

Cabeça: alguns dizem que é triangular, outros a viram em forma de pêra, e outros redonda.

Face: disseram que tinha face de canguru, mas outras testemunhas viram um bico comprido e afiado (Teodora Ayala), o que não coincide com o focinho curto mas pontiagudo, ou com a tromba de 30 centímetros de comprimento que também se relatou.

Presas: a maioria reporta duas, mas há alguns testemunhos de três presas. Foram descritas como curtas, compridas, afiadas e tubulares.

Orelhas: Aqui é onde há mais discrepâncias. Há relatos do Chupacabras com pequenas orelhas alargadas e dispostas para cima, e outros em que se diz que em lugar de orelhas tem duas fossas.

Olhos: alguns são redondos. Outros estão mais de acordo com os cánones ufológicos e mostram olhos rasgados com uma tonalidade alaranjada e avermelhada.

Patas: As amostras de estuque que se obtiveram no caso Ayala mostram um “˜rastro que é parecido com o talão de um ser humano, mas com três dedos como garras de águia”™ (sic). Em outro caso lhe viram patas curtas em forma de rã. As patas são pequenas, por isso caminha curvado, ou grandes, o que lhe permite dar grandes saltos.

Braços: Possui extremidades superiores atrofiadas e pregadas ao torso, cuja constituição se semelha a uma membrana que se estende entre seus flancos, o que lhe daria a aparência de um morcego. Entretanto outras testemunhas dizem que essa é sua aparência (a do morcego), mas sem asas. Há outros que lhe viram umas aletas nas costas, quer dizer, os braços não formam parte da membrana alar.

Mãos: O que podiam ser as mãos foram qualificadas como pequenas garras.

Pele: A pele está coberta de pêlo curto, segundo uns, mas o velador do rancho La Chocona, Víctor Manuel Samoaya, disse ter visto uma “pessoa” com meio metro de estatura totalmente albina e nua. Finalmente outras testemunhas dizem que seu corpo está coberto por pêlo muito comprido.

Cor: Albino, Cinza ou Negro. Para não errar se disse que, como os camaleões, sua pele troca de cor em tonalidades que vão do negro e azul ao vermelho e violeta.

Vôo: Emite um forte zumbido ao voar e seu vôo é grácil e veloz. O que se contrapõe com a declaração de uma testemunha “Sua forma de voar é muito torpe”.

Como vemos não existe uma descrição comum, quer dizer, as supostas testemunhas estão descrevendo o que sua imaginação lhes dita. Predizemos que, agora que já se publicaram vários desenhos do Chupacabras, as descrições vão se assemelhar mais.


AS EXPLICAÇÕES

Efetivamente se deram as explicações mais descabeladas, misturadas com hipóteses racionais. Vejamos algumas delas.

Disseram que é uma espécie de morcego gigante, outros o descrevem como um camundongo de grandes orelhas, o focinho comprido e presas muito afiadas. Mas o professor Rogelio Sosa Pérez, investigador do Centro de Ciências de Sinaloa, descarta que o chamado chupacabras seja um morcego gigante, já que estes animais habitam a América Central e se alimentam de frutas.

O doutor Ramiro Ramírez Necochea, vice-presidente da Federação Nacional de Médicos Veterinários Zootecnistas do México, A.C., apóia essa conclusão e explica qual foi, provavelmente a origem desta hipótese.

“Existe um vídeo realizado sobre a necrópsia de um ataque de um chupacabras a uma novilha. A análise foi realizada por uma pediatra de Puebla, que inclusive ilustrou seu vídeo com imagens de morcegos e do filme Jurasic Park, o que inclina mais as pessoas para a magia”.

Estes pseudocientistas (a pediatra) são aos que mais acodem os ufólogos para que avalizem suas idéias irracionais. Mas os investigadores do insólito não se deram por vencidos e disseram:

“Talvez não se trate de um morcego normal, mas pode ser o resultado de algum experimento de laboratório, da metamorfose de um simples morcego que depois de ter se alimentado com águas poluídas, pelas diversas substâncias químicas que jogam nas drenagens, tenha aumentado seu tamanho”.

A anterior é uma versão modificada do mito dos gigantescos lagartos e crocodilos que, supõe-se, habitam os esgotos da cidade de Nova Iorque.

A hipótese das mutações não se limita a morcegos. Mencionou-se que possivelmente seja o produto de alguma mutação genética celular ou o resultado de algum experimento científico maluco que escapou de um laboratório dos Estados Unidos. “Provavelmente é um pterodáctilo que retornou à vida por manipulações como as que vimos em Jurasic Park” (sic).

Para outros se trata de um mascote de extraterrestres que, por esquecimento ou maldade, abandonaram-no na Terra. Há quem assegure que são os mesmos extraterrestres que tripulam os OVNIs. E, talvez, a mais descabelada de todas as explicações: trata-se do espírito do alienígena morto em Roswell, que está penando porque não lhe permitiram morrer em paz já que foi objeto de uma autópsia e seus restos se encontram congelados em um hangar da Base Aérea de Wright Patterson.

Também se mencionou aos seguidores do satanismo. De fato a Diretora do Zoológico do Chapultepec, Maria Elena Hoyos, sugeriu esta hipótese já que, disse, tratava-se de “uma ação humana evidente”.

Embora não possamos descartar que alguns casos se devam a este tipo de rituais, não acreditamos que em todos tenham intervindo os satanistas. Não obstante isto não implica que não sejam outros humanos os que estão realizando algumas destas matanças. E neste caso poderíamos mencionar pregadores de peças, ufólogos criadores de “evidências” que apóiem a existência de extraterrestres, tipos que matam os animais por vinganças, revanches ou simples maldade ou loucura, etc.

O anterior não é desatinado já que o mesmo doutor David Berron, patologista do Zoológico do Chapultepec disse que “as feridas facilmente poderiam ser provocadas por qualquer objeto cortante circular. Neste caso um picador de gelo”. É óbvio que nenhum chupacabras portaria um picador de gelo. Pelo menos deveriam trazer a pistola laser regulamentar de todo bom extraterrestre que se aprecie.

Alguns dos animais foram atacados por gente que sabia um pouco de anatomia. Poderiam ser desde açougueiros até médicos veterinários. Chegou-se a esta conclusão já que certos animais apresentam um orifício que penetra os músculos e tecidos dos maxilares até chegar diretamente ao cerebelo, causando uma morte instantânea. Isto denota um certo grau de conhecimentos.

Os 18 novilhos de Cuauhtlinchán, Estado do México, foram enviados a veterinários da Universidade Nacional Autônoma do México e à Universidade de Chapingo, com feridas no pescoço de 7 centímetros de profundidade.

Em outros casos se fala de feridas de 4 a 8 centímetros de diâmetro no pescoço. Como por exemplo as 4 ovelhas e algumas galinhas que se encontraram no rancho La Gloria, em Agua Prieta, Sonora.

Mas o que talvez esteja melhor encaminhado na pista correta seja o doutor Fernando Gual, chefe de serviços veterinários do mesmo zoológico, quem disse que “não há um padrão similar”. Efetivamente, nem todos os animais foram mutilados por seres humanos, há os que morreram por causas naturais ou foram atacados por animais predadores.

Como exemplo de causas naturais temos o caso da vaca prenhe, de 600 quilogramas de peso, do rancho de Los Higareda, em Michoacán. Disseram que foi atacada pelo chupacabras. A delegada municipal, Josefina González Carabez, depois de ordenar uma investigação, disse que o animal foi vítima de sua torpeza pelo estado de gravidez: a vaca havia caído de um barranco e morrido pelos golpes produzidos pela queda.


PREDADORES

De acordo com os veterinários que realizaram algumas necrópsias nas cabras e novilhos, concluiu-se que as mortes se deveram ao ataque de um animal feroz, possivelmente um jaguar ou puma.

Por exemplo, o senhor Jesus Espinoza Ramírez, técnico da SAGAR, disse que os novilhos do rancho San Antonio Los Sauces, em Chiapas, morreram devido ao ataque de uma matilha de cães. Rafael González, chefe desse departamento, apoiou a explicação e acrescentou que já se apresentaram pelo menos dois casos similares nos últimos quinze meses, um no rancho La Chocona e outro no município de Osumacinta.

O presidente da Associação de Ovicultores de Chiapas, Ernesto Sánchez Yannini, assinalou que nos 20 anos que dedicou ao gado jamais tinha visto morrerem tantos animais em um ataque, embora não descarte a idéia de que uma matilha tenha sido a causadora. Sánchez Yannini apontou que quando estes animais são atacados ou acossados, não emitem nenhum som, e por isso são roubados com facilidade.

Isto explicaria o suposto mistério adicional de que ninguém escute o balido das cabras e ovelhas ao serem atacadas. No caso de La Chocona se disse que ninguém tinha escutado os latidos dos cães, nem os balidos das ovelhas.

O velador do rancho, Víctor Manuel Samoaya, disse ter visto uma pessoa como de meio metro de estatura totalmente albina e nua.

No rancho La Remolacha, localizado a 5 quilômetros de Los Mochis, Sinaloa, foram encontrados degolados 14 novilhos, e não 40 como disseram alguns ufólogos. Manuel Rodríguez, dono do rancho, declarou:

“Não sei se foi obra de extraterrestres ou do diabo, o certo é que os animais amanheceram com o pescoço perfurado e as pessoas estão assustadas”.

“Dizem que foram cães, eu tenho dez e estes jamais teriam atacado aos novilhos. Além disso na noite do ataque se ouviu muita latideira (sic) e uivos, mas o capataz não viu ninguém”.

Quer dizer, os cães guardiães sim fizeram seu trabalho: ladraram avisando da presença de algo à espreita. Isto desmente também o mito de que os cães ficam mudos e não fazem escândalo.

Antonio Moreno, vizinho de La Remolacha, disse que se trata de um mutante “produto de experimentos gringos. Talvez injetaram em um morcego uma substância para que crescesse e depois o mandassem à Lua; e não é apenas um mas sim vários animais”.

O médico veterinário Feliciano García Carrillo, chefe do Programa de Saúde da SAGAR, enviou o também médico veterinário Sergio Reséndiz Torres,
de Zamora, Michoacán, para que investigasse a morte de 8 novilhos encontrados mortos no povoado do Guáscuaro, município de Tingüindin, a 40 minutos de Zamora.

“Bom ““comentou García Carrillo-, nos dias passados nos informaram de um ataque a oito novilhos. E na medida em que nos inteiramos, acudimos a um médico veterinário especialista em saúde animal e assim que encontrou animais que estavam moribundos, solicitou os dados do proprietário. O senhor tem aproximadamente 33 novilhos e lhe amanheceram 8 mortos e alguns feridos, que aparentemente foram atacados por algum predador como um cão ou um pouco parecido”.

Tratava-se do caso do senhor José Linares Sandoval. Reséndiz Torres descobriu que a mordida se devia a um animal canino (coiote ou cão) e esclareceu:

“Os animais mortos tinham todo o seu sangue, com uma ferida à altura da jugular normalmente sangram por si só e não encontramos rastros de que estivessem chupados, não há um animal que beba tal quantidade de sangue como a que tem um novilho que é de seis a oito litros, é muito difícil, teria que ser um animal tão grande que todo mundo o veria e mais se forem vários novilhos. Bom, a quem lhe cabe tal quantidade de sangue? Não está chupando sangue, simplesmente os atacou e os mordeu, e o ataque foi severo, e o proprietário não se deu conta, bom, não esteve pendente”.

Além disso, encontraram-se rastros “como de cães”.

O que aconteceu para que os animais aparecessem totalmente sangrados, sem um “pingo” de sangue? Ao que parece também é um mito. De todos os relatos que conheço em que intervieram veterinários ou os mesmos fizeram uma autópsia, não há um só em que se afirme que os animais estavam secos, sem sangue. Só a pediatra de Puebla, que fez um arremedo de necrópsia, sem ter nem idéia, foi a única que afirmou que o animal estava seco de sangue.

O diretor do zoológico de Culiacán, o médico veterinário Humberto Iriarte, investigou a morte de 24 animais naquele estado. Não encontrou nenhum indício de extração de sangue. Os animais foram mortos por “um ataque de uma matilha de cães ferais” (animais domésticos que retornaram à vida silvestre).

“Os ataques de cães são muito comuns; as pessoas sabem. Mas eles mesmos não têm o que comer, muito menos para dar aos cães, que não sendo raivosos não suportam a fome. Os cães por sua natureza atacam a animais que são muito calmos e inofensivos”.

Em tempo de seca, como o que agora padecemos, os animais silvestres, famintos, baixam até as rancherias. Inclusive há cães, dos chamados guias de ruas, que se unem em matilhas e atacam ou matam aos novilhos, como fazem os coiotes. Os mapaches também podem atacar às galinhas, por exemplo.

No relatório do doutor Iriarte ao governo do Estado se indica que:

1. Os ataques dos animais foram realizados por cães ferais e não raivosos, como manifestaram algumas autoridades.

2. Os corpos dos animais mortos tinham sangue (um morcego só pode absorver 17 mililitros de sangue).

3. Os habitantes do município tiveram má disposição para atender aos animais moribundos e os deixaram falecer.

4. Uma semana antes, os animais do lugar tinham sofrido outro ataque de cães que não foi denunciado às autoridades.

5. Os habitantes passam por uma difícil crise econômica, além disso participam de brigas constantes por rixas antigas entre eles mesmos, situação que torna factível algum tipo de vingança.

María Elena Hoyos, diretora do zoológico de Chapultepec também recordou que em 1985 o mesmo zoológico sofreu um ataque de cães ferais, os quais mataram aves e outros animais pequenos. Tratava-se de uma matilha de cães que sobrevivia com os desperdícios que os visitantes jogam ao bosque. Quando, em setembro e nos meses sucessivos o zoológico foi fechado para remodelação, diminuiu a afluência de visitantes. Os cães ficaram sem comer e não tiveram alternativa a não ser atacar os animais encerrados em suas jaulas.

O subsecretário de Agricultura, Romárico Arroyo declarou que se tratavam de simples coiotes ou animais predadores que, devido à seca, procuram qualquer mecanismo para saciar sua fome.

O funcionário particularizou que em todos os casos relatados, especialistas da Secretaria de Agricultura, Gado e Desenvolvimento Rural (SAGDR) coincidem em que se trata de ataques de animais depredadores, como lobos e coiotes.

A OPINIÃO DO DOUTOR RAMIRO RAMÍREZ NECOCHEA

O doutor Ramiro Ramírez Necochea, de quem já falamos mais acima, fez diversas observações muito acertadas. Reproduzimo-las aqui integralmente por seu interesse neste assunto. Segundo o doutor Ramírez grande parte dos casos se devem a animais predadores selvagens.

“Esses animais estão vivendo uma tremenda urgência de alimento. Temos dois anos de intensa seca e embora ainda não saiba de que forma possam ter se alterado os ecossistemas, penso que estes animais estão se aproximando das populações para alimentar-se, e que desde a aparição do chupacabras, tudo é atribuído a ele”.

“Eu realizei em Sonora, há duas semanas, uma análise de uma vaca, que as pessoas juravam ter sido vítima do chupacabras. Entretanto, o animal tinha morrido por uma infecção nos intestinos, causada pela pouca disponibilidade de alimento. Além disso, apresentava marcados rastros de navalhadas em sua pele e, contrário do que se poderia pensar, havia presença de sangue”.

Efetivamente as mudanças radicais no hábitat, como são o incremento da temperatura e a prolongação das secas sazonais são os causadores e uma migração de animais como pumas, cães, raposas, coiotes, etc., quem em busca de mantimentos se transladam às rancherias e atacam os animais de curral. A seca ameaça converter a estiagem em um desastre para a agricultura e a pecuária.

Alguns ufólogos expuseram a seguinte questão: por que antes, em temporada de seca, não se davam este tipo de fenômenos? A resposta é óbvia: sim se davam, mas poucos tomavam importância e ninguém os atribuía a seres extraterrestres ou ao chupacabras, já que estavam conscientes de que se deviam a processos naturais. Hoje o chupacabras se converteu em um produto da confusão, do sensacionalismo com que se pretende explorar a capacidade de assombro dos incautos. Tudo é atribuído a este mítico ser.

Como dado adicional diremos que em 1973 o Fish and Wildlife Service dos Estados Unidos publicou um estudo em que proporcionava as médias estatísticas anuais de perdas de vacas, novilhos, cabras, porcos, cavalos, etc., devidas a ataques por predadores. Curiosamente faz uma análise comparativa com a situação no México. Segundo esse estudo, nesse então, anualmente o México perdia em média um total de 30.000 cabeças de gado. Quer dizer, 2.500 cabeças por mês. Se a tendência for a mesma para este ano de 1996, a quantidade de mortes relatadas (supos
tamente devidas ao chupacabras, 1.138) não cobre nem a metade deste dado. O anterior quer dizer ou que os predadores habituais desapareceram em sua totalidade deixando o trabalho sujo ao chupacabras (algo que logicamente não é verdade); ou que agora os predadores naturais do gado se encarregam de ocultar os restos de suas vítimas, enquanto o chupacabras as deixa à intempérie (o que também é uma tolice); ou não existe o chupacabras e diminuiu significativamente o número de carnívoros em nosso território (o que pode ser uma penosa realidade de nosso desmoronamento ecológico).

Outra análise nesse sentido, devida ao doutor Ramírez, mostra-nos a verdade do mito. O doutor Ramírez fez o cálculo do sangue que deve ter ingerido o chupacabras. Tomando em conta o fator de 60 mililitros de sangue por cada quilograma de peso de animal, chega à quantidade de 81 litros de sangue tão somente em um dia.

“Para que o chupacabras possa ingerir essa quantidade de sangue se deve supor que se trata de um animal que pesa mais de duas toneladas. Para que possa deslocar-se pelos ares suas asas deveriam medir 2 quilômetros, mas nisso estamos possivelmente equivocados, porque ninguém o viu, não é assim?”

“Entretanto, cabe outra possibilidade. Talvez se tratem de vários chupacabras, um por cada Estado da República. Isso quer dizer que estamos invadidos por um enxame deles e já se teria apanhado algum, coisa que não aconteceu”.

“Por outro lado, se forem muitos chupacabras, de aproximadamente 25 quilogramas de peso cada um deles, necessitamos 80 animais deste tipo em todo o país para que possam causar tantos ataques. É incrível que ninguém tenha podido apanhar algum”.

Sua lógica é contundente mas temo que nada servirá para a mente do ufólogo médio. Para eles tudo é misterioso, estranho e não tem explicação racional.

O único ufólogo que fez uma declaração razoável foi o senhor Pedro Ferriz Santacruz, o que não é de se estranhar já que tem anos nestes assuntos e seu nível cultural está muito acima daqueles que agora desejam tomar seu lugar. Dom Pedro disse:

“Que evidências existem, quem viu ao chupacabras, por que não há fotografias, onde estão as vítimas, no que sustentam a hipótese, por que não se dirige com seriedade este assunto?”

O professor em sociologia pela Universidade Ibero-americana, Mauricio Saez disse que o conceito chupacabras é muito acertado, porque esse vocábulo se conecta diretamente com diferentes linguagens que utiliza a sociedade.

“Chupa é uma palavra de fácil identificação com a linguagem dos contos, com a linguagem que utilizamos para falar de vampiros e também quando queremos expressar outras formas de falar: é metafórico. Dizer que chupa, é como dizer que rouba. A “˜chupacabramania”™ é uma forma social de espoliação que explora o imaginário popular”.

Indicou que a difusão que se deu nos meios a este termo “não é gratuita; é uma maneira de induzir à população a que construa um inimigo banal que pague pelas penúrias pelas quais passa o povo. Não quero dizer que é uma estratégia deliberada do governo, embora não o duvidaria”.

O uso do fenômeno OVNI como fator de distração popular foi estudado em outras partes da América. Está na Argentina, Uruguai e Brasil com uma rica casuística ufológica durante a época das ditaduras. Também o México, nos melhores anos do PRI, teve suas ondas OVNI que bem podiam estar apoiadas pelos meios de propaganda do governo. Nossos governantes nos podem manipular a tal grau que nos permitem nos ver como estúpidos. É uma coisa patética: somos muito manipuláveis. Não é preciso mais do que ver as reações às declarações de Maussán, por exemplo, que promovem a cultura do medo e propiciam condutas equivocadas, como a matança de morcegos e de mamíferos.

No caso particular do chupacabras seu enorme êxito no México obedece a uma reação das pessoas diante da aguda crise econômica, política e social que aflige ao país. O conto popular diz que em nosso país só há duas alternativas: ou se é bode ou se é pendejo. Sob esta óptica ser um macho caibro resulta ser uma adulação: é o todo-poderoso dono do harém. Alguém mais capitalista que pode xingar ao macho caibro ou é um ser de outro planeta ou é o próprio sistema do qual somos vítimas: o governo, o narcotráfico, a crise, os Estados Unidos”¦ Daí a identificar ao chupacabras com os políticos (Carlos Salinas de Gortari). Desde aí também o tributo pago aos narcotraficantes em forma de corridos, e os mesmos corridos compostos para o chupacabras. Indubitavelmente os Estados Unidos também têm a culpa: o chupacabras é produto de experimentos secretos. Finalmente o chupacabras é tão capitalista como a crise: não pode ser morto, como não pudemos trocar o sistema que tanto nos empobreceu.

Fechamos este artigo com uma reflexão do doutor Ramírez.

“O preocupante neste momento é que a população seja enganada e que cheguem a contaminar também as mentes pensantes do país”.

– – –

Dívida de agradecimento
Desejo fazer público meu agradecimento ao ufólogo argentino José Luis Di Rosa por todo o material que pôs a minha disposição para a realização deste trabalho.

* Tradução editada autorizada de artigos publicados na revista mexicana Contacto Ovni números 21 e 22, outubro de 1996, e reproduzidos na íntegra em Marcianitos Verdes. O autor, Luis Ruiz Noguez, explica e introduz seu texto originalmente:

“Há alguns dias os editores desta revista solicitaram minha opinião sobre o tema tão em moda e polêmico do chupacabras. Escrever um artigo sobre um tema que não é minha especialidade (embora tampouco da especialidade de ninguém, até o momento), há muito pouco tempo de haver-se desatado a “onda” de avistamentos do chupacabras, e sem ter tempo de analisar e refletir sobre o assunto, em definitiva não é minha forma de operar. Em geral não é a de nenhum cético ou crítico do fenômeno OVNI. Em princípio me neguei a dar minha opinião de forma tão precipitada. Além das razões já expostas havia outras: o tema não me parecia interessante (tão somente uma "serpente do verão", como se conhece no jargão jornalístico mexicano), e porque estava envolvido em outros projetos
ufológicos de maior importância. Não obstante o tema se converteu em um lugar comum de toda conversa de mesa. Era a moda e a fofoca de todos os dias. Periódicos, revistas, rádio e televisão se ocuparam de difundir dia e noite notícias sobre o fenômeno. O problema era que a maioria destas notícias eram de cunho sensacionalista e em lugar de informar estavam criando uma psicose na população mexicana. Não podíamos ficar de braços cruzados, precisávamos proporcionar um pouco de prudência (se é que podíamos achá-la) em tudo isso”.

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5 comentários sobre “O Chupacabras ou o Frankenstein da mídia

  1. Eu até respeito o autor da matéria daqui, só que meu amigo, não quero parecer fantasioso, muito menos sugerir que fosse um ser extraterrestre, mas esse tipo de comparação de animais estranhos com aves não é algo novo. Já tinham inaugurado isso no caso do Mothman ou Homem mariposa na década de 60, alguns céticos demais, disseram que seria uma coruja tyto alba, acontece que vários fatores refutavam isso, e o engraçado é que corujas tyto albas não podem atingir 1,80, muito menos ter olhos vermelhos gigantes. A comparação que voce faz desse animal com a ave, é insana, pois se fosse tal animal, porque diabos acabou os ataques em massa, já que eles habitam o lugar dos ataques, a vários anos?? Não faz sentindo, outra coisa é que o brasil não está perto da América central como o méxico e teve ataques aqui, em vários lugares que essa ave nem existe. Também teve um caso de um homem morto possivelmente por chupacabras no brasil, os médicos legista não conseguiram identificar a causa mortis, ele teve ferimentos parecidos com de animais mutilados, como um ser humano vai ser morto por uma ave de menos de 40 cm?? Sinceramente, meu caro, essa teoria que voce publicou não encaixa em um monte de coisas, existe relatos de cachorros que tiveram medo de entrar na mata quando esses seres estavam por perto, deveria analisar mais as coisas antes de publicar asneiras. Mas uma vez eu ressalto que o chupacabra não era uma ave nem mesmo qualquer animal conhecido, é mais plausível a teoria de um experimento genético errado, do que essa de aves, pois esta última chega a ser idiota de expor. Agora também tenho que concorda que essa ideia do chupacabra ser de origem alienígena é pior que a ideia de ser uma ave, pois hoje em dia sempre querem colocar alienígenas em tudo, é moda isso. Houve algum ocorrido estranho algum idiota tem que ligar alienígenas nisso. Como voce disse é a febre do momento. Só que aves serem a explicação é realmente uma coisa estúpida, as vezes os céticos demais tem esse defeito, não encontram soluções para algumas coisas e dão cada explicação maluca, que fica pior que a dos não céticos, seja cético, também sou, mas com lógica e razão! Sem maluquices.

    1. Sherlock com toda a razão!
      Não é pq a idéia de aliens, vampiros, mosntros, boitatá, e o escambal, é uma coisa sem pé nem cabeça que uma tal explicação de ser uma ave vai ser mais crível só por se tratar de um animal que existe.
      Os argumentos não fazem sentido.
      Não creio em criaturas fantásticas nesse caso, mas passou bem longe de uma reposta plausível essa explicação da ave.

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