A foto OVNI de Calvine: então é Natal?

Há pouco mais de seis meses, uma das mais fascinantes imagens de objetos voadores não-identificados veio à tona. A “foto OVNI de Calvine” foi revelada pelo pesquisador britânico David Clarke, nada menos que 32 anos depois de ter sido capturada em uma noite de agosto de 1990. Você confere os detalhes da história envolvendo desde o Ministério da Defesa britânico até a série Arquivo-X em nosso artigo anterior: “A foto OVNI de Calvine: o melhor registro já capturado?

Em tempos modernos, seis meses podem ser uma eternidade, mas mesmo a eternidade moderna ainda não trouxe conclusões sobre uma imagem tão curiosa. Não surgiram as outras cinco fotografias que acompanhariam a imagem revelada — que, de toda forma, seria a melhor imagem da série. Não surgiram os autores das fotografias, cuja identidade permanece sob sigilo — talvez para preservar o segredo alienígena, ou simplesmente porque existem leis de privacidade que estão sendo seguidas pelo governo britânico. Não surgiu nenhuma análise que demonstrasse inconsistências gritantes na imagem.

O que surgiu até agora foram diversas teorias e análises que, embora não sejam conclusivas, podem ser quase tão fascinantes quanto a foto OVNI de Calvine.

Teorias em Reflexão

Como notamos anteriormente, o próprio David Clarke sugere que o OVNI poderia ser uma aeronave mundana, terrestre, avançada, e bem secreta, até os dias de hoje. Ao redor da mesma época, na década de 1990, rumores sobre um “Projeto Aurora“, um dos mais famosos projetos secretos do governo dos EUA, circulavam pelo mundo.

O testemunho registrado por aqueles que capturaram as imagens, porém, não é compatível mesmo com essa suposta aeronave secreta. A super aeronave Aurora seria sim capaz de velocidades hipersônicas, mas incapaz de também levitar silenciosamente no ar como o OVNI de Calvine. Acreditar na fotografia, mas desconsiderar o testemunho, seria incoerente.

Acreditar na fotografia e no testemunho indicaria fortemente a hipótese extraterrestre — uma aeronave flutuando em silêncio e depois disparando ao espaço não seria terrestre. Mas dar este salto do terrestre ao alienígena também poderia indicar outras hipóteses extraordinárias arbitrárias, como a de que seria um gnomo ou uma fenda para uma dimensão paralela. Alegações extraordinárias exigem evidências extraordinárias, e embora a fotografia seja fascinante e existam dois testemunhos, há outras formas pelas quais a fotografia poderia ser produzida e dois testemunhos poderiam ser inventados.

Teorias de como a imagem poderia ter sido criada sem ETs (ou gnomos) pipocaram dias após sua revelação. Entre elas, como resumido em um post no fórum Metabunk, temos desde as mais comuns, como:

  • Um balão ou pipa
  • Um modelo suspenso por linha ou preso em frente a um vidro
  • Manipulação fotográfica em filme ou digital

Até as mais curiosas, como:

  • O topo de uma montanha — o OVNI seria o topo de um morro, ocultado logo abaixo por neblina
  • Um reflexo no lago — o céu nublado seria em verdade um reflexo na água, e o OVNI, o topo de uma pedra emergindo, refletido logo abaixo, formando esse curioso formato de prisma.
Imagem ilustrativa da teoria de reflexo no lago, de Charlie Wiser em Metabunk. O próprio Wiser utiliza a ilustração para evidenciar que a teoria é pouco compatível com a fotografia OVNI de Calvine.

A ideia de que seria o topo de uma montanha ou um reflexo no lago é curiosa, mas ao final são pouco compatíveis com as imagens. O local das fotografias já foi encontrado, e não há lagos nem montanhas — muito menos enormes neblinas — que combinassem com os registros.

Um OVNI Natalino

O pesquisador belga Wim van Utrecht acaba de produzir uma das mais interessantes reproduções da fotografia OVNI de Calvine. De fato, a imagem que inicia este artigo não é a imagem original de Calvine, e sim a reprodução de Van Utrecht!

Objetos usados por Van Utrecht para reproduzir a foto OVNI de Calvine

“Se a imagem for falsa, a maneira mais simples de conseguir um objeto voador super moderno no céu seria pendurar um objeto pequeno em um fio na frente da câmera. Mas qual objeto? Acho que a pequena saliência na lateral direita do objeto é a chave para a solução. Ela me lembra um anel ou uma pérola perfurada que faz parte de uma joia ou medalha, através da qual uma corda pode ser inserida. Um objeto que me veio à mente é uma estrela que pode ser pendurada em uma árvore de Natal.
A estrela é um candidato interessante, não só porque tem um anel ou pérola no final de um de suas pontas, mas também porque há várias estrelas de Natal à venda que têm um brilho prateado. Essa textura áspera combinada com a alta refletividade das partículas de prata faz com que a luz do céu incidente se espalhe em diferentes direções, dando à superfície uma aparência brilhante e ao mesmo tempo difusa. Colocar esse objeto em um céu uniformemente iluminado fará com que pareça mais longe da câmera do que realmente está.”

Wim van Utrecht: “A UFO with a High X(mas) Factor

Nas reproduções feitas por Van Utrecht, não se podem ver os fios que suspendem a estrela de Natal ou mesmo o modelo de avião, por conta das condições de luminosidade contra o céu.

Reprodução da fotografia OVNI de Calvine, criada por Wim van Utrecht suspendendo uma estrela de Natal de lado e um modelo de avião com linhas de pescar em ramos da árvore em primeiro plano.

“Resumindo, acho que os dois jovens subiram a colina com a única intenção de fabricar uma série de fotos de OVNIs. Para isso, levaram consigo um modelo de OVNI (possivelmente uma estrela de Natal), um avião Harrier em miniatura, um rolo de linha de pesca e uma vara de pesca. Ao chegar na colina, procuraram um local com um céu aberto vasto de um lado e um grupo de árvores com galhos esticados horizontalmente do outro, exatamente o que vemos nas fotos tiradas por Giles Stevens no local presumido onde as fotos foram tiradas (…). Depois de desempacotarem suas coisas, os homens usaram a linha de pesca para suspender o modelo de OVNI de uma ramificação de uma das árvores. O Harrier em miniatura foi fixado no final da vara de pesca e, enquanto um dos homens movia o pequeno Harrier em torno do “disco voador”, seu companheiro tirou as fotos. Se o Harrier em miniatura estivesse em movimento e perto da câmera, isso também explicaria por que ele apareceu mais borrado nas fotos do que o “objeto voador” em si.”

Como notamos em nosso artigo anterior, se as imagens de Calvine foram simples modelos suspensos por fios, elas enganaram analistas fotográficos profissionais do Ministério de Defesa britânico. Isso, porém, não seria algo nada inédito: que analistas militares falhem em identificar fraudes simples, que foram admitidas posteriormente pelos próprios autores, é algo que já ocorreu diversas vezes nas últimas décadas, como no caso citado da foto de Petit-Rechain.

Demonstrar que a fotografia pode ser reproduzida com uma estrela de Natal não prova que era uma estrela de Natal. Apenas mais evidências permitirão chegar a conclusões neste caso.

Na ausência delas, contudo, Van Utrecht já demonstrou que não seria difícil produzir a imagem revelada com um certo espírito natalino.

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Referência: A UFO with a High X(mas) Factor – Second Attempt – Wim van Utrecht, Jan 2023

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