A Grande Fraude de Carlos — o experimento

Assista no vídeo acima a uma breve conferência de “Carlos”, um espírito de 2.000 anos de idade canalizado pelo jovem José Alvarez. Estranho? Bizarro? Intrigante? Talvez você já tenha ouvido falar de “Carlos”, principalmente se leu “O Mundo Assombrado pelos Demônios” de Sagan. Porque “Carlos” foi em verdade o experimento conduzido por James Randi em conjunto com o programa “60 Minutes” australiano. O objetivo: criar um falso guru em apenas uma semana.

E a experiência foi um sucesso. Em poucos dias, “Carlos” foi convidado aos principais programas de TV do país e seu clímax foi uma apresentação em que pôde oferecer falsos “cristais curativos”, livros e mesmo suas lágrimas. Centenas de australianos foram assisti-lo, e como se vê acima, muitos deles saíram convencidos de que “Carlos” falava a verdade. Tudo isso em alguns dias de intensa exposição pela mídia, a maior parte gratuita. Todos queriam mostrar a bizarra figura de “Carlos”.

O segmento completo do programa “60 Minutes”, em inglês, sobre o experimento de “Carlos” pode ser visto aqui:

Um aspecto importante revelado pela experiência é que a maior parte da exposição midiática de “Carlos” foi… cética! “Cética” no sentido de ser negativa, mesmo jocosa. Em poucos dias, pelo menos um programa chamou um cético local que, desavisado da experiência, ainda assim acertou em explicar como “Carlos” fazia seu principal feito “paranormal”. Para fazer sua pulsação parar, ele simplesmente pressionava uma bola embaixo do braço. O empresário de “Carlos” chegou mesmo a jogar um copo d’água em um apresentador incisivo — mas a briga, longe de prejudicá-los, foi sua grande cartada. No dia seguinte todos os jornais e programas comentavam o papelão, e “Carlos” recebia ainda mais divulgação gratuita.

Em toda essa publicidade gratuita, ainda que negativa, ninguém investigou o suposto médium. Foram apenas alguns dias, é verdade, mas várias pistas de fácil verificação da fraude foram deixadas. Bastaria uma ligação para os EUA para descobrir que “Carlos” não existia nem como um falso espírito, sendo apenas uma experiência de Randi. Ninguém, de nenhum dos programas que exibiram “Carlos” como uma figura bizarra, incluindo noticiários, fez essa ligação. O ceticismo não foi investigativo aqui, e mesmo a cobertura negativa recebida ainda foi uma grande exposição a Carlos. O resultado foram as centenas de pessoas que foram assisti-lo em sua apresentação, interessadas em conhecê-lo melhor e vulneráveis a serem surrupiadas.

Como o repórter do “60 Minutes” adverte ao final, veículos de mídia precisam ter muito cuidado ao abordar casos assim, porque mesmo uma cobertura negativa ainda pode ser benéfica a charlatães — e prejudicial aos espectadores que pretendem proteger.
[via badpsychics]

Atualização: Quase ia me esquecendo de comentar. O experimento de Carlos foi inspiração óbvia para o excelente quadro “Operação Bola de Cristal” do Fantástico, exibido no ano passado.

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