As Crianças Verdes
por Diego Zúñiga C., original em ‘Mundo Forteano‘
Se existe um mistério que impressione e apareça como incrível, é este. E resulta difícil digerir que em um povoado inglês, em meio ao século XII, um par de crianças (uma de cada sexo) apareceu diante das pessoas, deixando em evidência que a cor de suas peles era… verde!
Antes de começar, esclareçamos algo: para redigir este artigo, ocupei-me de duas fontes: Um exemplar da revista "Enigmas" e uma nota aparecida no livro "¡Inverosímil!". Cada um menciona uma data distinta: o primeiro fala do século XII, enquanto o segundo assegura que tudo ocorreu no século XI. Ocuparemos o século XII só por capricho, e não porque existam referências seguras de que esta tenha sido a data correta. Notem, primeiro ponto contra: não há concordância nas datas.
Voltemos atrás no tempo. Muito atrás… século XII. Povoado de Woolpit, em Suffolk (Inglaterra). Situemo-nos no campo, donde os campesinos trabalhavam com suas colheitas. Diz-se que era agosto. Pois bem, imaginemo-nos agosto. A ver, Woolpit fica a 112 quilômetros de Londres, e relativamente próxima de Cambridge e Ipswich. Não se preocupem, a mim tampouco me diz muito tudo isto, mas se por acaso…
Bom, voltemos a essa data. Paremos sobre o campo e relembremos a colheita… Vejamos com curiosidade como duas crianças se acercam caminhando torpemente. Que tem isso de raro? perguntarão. Nada, exceto que as crianças, suas roupas, cabelo e tudo nelas era verde.
Quanta surpresa devem ter levado os trabalhadores que viveram essa cena. Tal foi a impressão, que não tardaram em entregá-los ao dono do feudo, sir Richard de Caine. Ali descobriram que as crianças não falavam inglês nem nada que se podia reconhecer, mas indicaram mediante sinais -idioma universal- que tinham fome. Pois bem, sir Richard e os seus não foram maus anfitriões e ofereceram a seus inesperados convidados uma serie de manjares apetitosos… O que aconteceu? Exato!, o que adivinham: não comeram, a pesar da fome.
Segundo os cronistas da época (William de Newburgh e Ralph, abade de Coggeshall), as crianças foram se acostumando pouco a pouco à dieta "humana" e terminaram por perder quase a totalidade de sua coloração verde. A alguém ocorreu que deviam ser batizadas, e assim foi feito. Mas não serviu muito, pois poucos meses depois de chegar, o menino morreu. Contudo, supõem que sua irmã sobreviveu, perdeu toda sua cor e inclusive trabalhou na área. O abade Ralph (note a quantidade de dados que dele existem) a descreveria como "um tanto descuidada e caprichosa". A mulher se casou jovem e viveu uma larga e feliz vida (qual conto de fadas) com sua família -entenda-se filhos e marido- em King’s Lynn, Norfolk. Outras versões asseguram que foi a viver em Lenna, mas se pode supor que é outra ortografia medieval para Lynn.
Agreguemos que o manuscrito em latim de William de Newburgh está registrado na coleção Harleian do museu Britânico com o número 3875. Algo que poderíamos crer então. Mas para os autores do artigo "As crianças verdes de Woolpit", Lionel e Patricia Fanthorpe, Ralph é crível, pois parece ter tido como fonte o próprio Richard de Caine e os detalhes que aporta e a preocupação que demonstra pela moralidade da jovem lhe dão um toque de autenticidade. Para os Fanthorpe, um cronista não faria comentários sobre coisas éticas a não ser que o relato fosse verídico (?).
Segundo a "análise" que estes mesmos autores fazem do caso, existem alguns aspectos que dão maior credibilidade à historia:
– Que as crianças foram de mãos dadas, o que indica que se apoiavam e que viviam em uma situação fora do normal.
– Que desconheciam a comida e a rechaçaram, embora tivessem muita fome.
– Que aprenderam rapidamente o inglês, idioma que se supõe desconheciam ao principio. Isto indica que estavam muito bem preparados academicamente
– Que as condutas sexuais da garota foram distintas das da época, o que inclusive mereceu os reproves do abade Ralph.
Repito, para Lionel e Patricia Fanthorpe estes dados têm uma aura de autenticidade. Algo assim como um "não sei quê"…
O RELATO DAS CRIANÇAS
Uma vez que aprenderam suficientemente bem o idioma, as crianças narraram que vinham de um país cristão a que chamavam Terra de São Martin. Sabe-se que existem mais de 500 povoados com o nome de São Martin, que foi um soldado-que-se-tornou-monge-para-logo-ser-sacerdote. Como vários desses povoados ficavam na França, podemos deduzir que as crianças eram francesas. Mas, se os pequenos verdes eram da França, o que faziam na Inglaterra? É claro, que falavam francês explicaria que não entendiam o inglês… (outra brilhante dedução dos Fanthorpe).
Segue o relato. Dizem os pequenos que estavam cuidando das ovelhas de seu pai quando uma grande luz os atraiu e caíram, quase por arte de magia, nas terras de Woolpit, cujo sol as aturdia. Mais tarde declarariam que em seu país, nunca havia mais sol que o que viam ao amanhecer ou entardecer na Inglaterra. Mas depois dariam outra versão: entraram em um túnel, ao final do qual havia uma grande luz. Quando saíram, encontraram-se em Woolpit, mas nunca puderam encontrar novamente o buraco pelo qual dizem haver saído.
ALGUMAS HIPÓTESES
Certos investigadores não puderam deixar a ocasião de dar a conhecer suas hipóteses com respeito a este curioso enigma. Para alguns, a cor verde das crianças se deveria a que eram obrigadas a trabalhar em minas de cobre, algo que então – e inclusive hoje, não esqueçamos – era muito comum. Mencionemos que a exposição permanente ao pó de cobre tem como sintomas a coloração verde da pele e do cabelo. De fato, no Daily Mail de 14 de novembro de 1995 se publicava uma nota em que explicavam que o cabelo ruivo de algumas jovens suecas havia se tornado verde por terem bebido água contaminada com óxido de cobre. Isto teria sentido se não fosse porque as próprias crianças contaram que cuidavam de ovelhas. Fim da elucubração.
Para outros estudiosos esta história não seria mais que uma estranha versão do mito de Plutão e Perséfone, ou uma versão que tenta emular os ritos de fertilidade, onde o protagonista masculino era sacrificado e a rainha vivia em prosperidade. Outros crêem que as crianças trabalhavam sim com o cobre e inventaram tudo o mais para não voltar às minas.
Não faltaram os que colocam como possível que o país das crianças não fosse mais que um lugar em outro lugar… Outra dimensão ou quem sabe outro planeta, e que o túnel de que falavam não fora mais que uma espécie de passagem ou porta interdimensional.
Existem mais idéias que tentam explicar este enigma. Aqui vão algumas:
– Eram crianças perdidas que se mancharam de verde n o bosque, talvez com mofo ou algas.
– Eram atores de uma peça de teatro sobre ritos pagãos de fertilidade que d
e alguma maneira se separaram da obra.
– Eram vítimas de torturadores que os haviam tingido de verde para exibir-los como fenômenos e ganhar dinheiro. Mas afortunadamente haviam escapado desses malfeitores.
– Talvez não sejam mais que uma invenção surgida de algum conto da época que, sem querer, adquiriu tons de realidade.
No mundo do impossível, tudo é possível. Finalmente gostaria de fazer um paralelo com outra história muito similar a esta, mas que teria ocorrido em Banjos, Espanha. Transcreverei textualmente a nota aparecida no livro "¡Inverosímil!":
"Duas crianças saíram de uma cova próxima de Banjos (Espanha), em agosto de 1887. Tinham a pele verde e as roupas de um tecido estranho. Não falavam espanhol e seus olhos pareciam orientais.
Ao princípio não quiseram comer, e o menino morreu; a menina sobreviveu e aprendeu o suficiente espanhol para explicar que procediam de um país sem sol, donde um dia os havia arrebatado um furacão para depositá-los na cova. É compreensível que semelhante explicação não ajudasse a dissipar o assombro que a rodeava. Morreu em 1892 sem que se conhecessem suas origens. (Colin Wilson, Enigmas and Mysteries, pág. 131)". (Abaixo: ilustração que acompanhava esta informação)
Notarão que ambas historias são sumamente similares. E não faltará quem grite "eureka!, então é certo". Pois bem amigos, lamento dizer-lhes que esta historia é FALSA com segurança. O que supostamente ocorreu na Espanha não é mais que uma cópia barata do aparentemente ocorrido na Inglaterra. Banjos, o já mencionado povoado espanhol, não existe, tal e como têm dito investigadores espanhóis.
Encontro triste isto de inventar cidades e fatos, pois se termina por desprestigiar a investigação de fenômenos que não têm por que ser ajudados por mentiras para ser inexplicáveis e fantásticos. Até aqui chega a vida e obra das crianças verdes. Agora, a ver bem as cores de nossos vizinhos, quem sabe não apareça algum meio "arco-írico" por aí…
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Fontes:
– "Inverosímil, fenómenos inexplicables", Selecciones del Reader’s Digest, México, 1985.
– Revista "Enigmas", Año II, Nº 11, noviembre de 1996. "Los niños verdes de Woolpit", Lionel y Patricia Fanthorpe.
Já tinha lido algo a respeito, mas que tinha ocorrido na Espanha, não sabia que tinha acontecido na Inglaterra também. É simplesmente mais uma lenda como qualquer outra.
embora eu tenha feito comentarios meio piadistas essa é a unica historia.. que com explicação convincente eu realmente acredito que são crianças que sofreram traumas e se perderam…..
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Li sobre esta história em um dos livros do Peter Kolosimo, acho que no “Não é Terrestre”.