As 'Anomalias' SOHO/LASCO
O que são aqueles objetos com forma de disco voador nas imagens LASCO?
O “esferóide de aparência estranha” é uma resposta típica do detector CCD do coronógrafo SOHO LASCO para um objeto (planeta ou estrela brilhante) de extensão angular pequena mas tão luminoso que satura a câmera CCD de forma que um “sangramento” [“bleeding”] ocorre ao longo das linhas de pixels. Há um rastro horizontal brilhante em cada lado da imagem, porque a carga vaza mais facilmente ao longo da direção na qual a imagem CCD é lida pela eletrônica associada.
CCD significa detector de carga acoplada e se refere a um chip de silício, normalmente de um centímetro ou dois de tamanho, dividido em uma grade de células, cada uma das quais age como um pequeno fotomultiplicador em que um fóton colidindo libera um ou mais elétrons. Os elétrons são então “lidos” em fileiras (direção rápida) e colunas (direção lenta), a corrente é convertida em um sinal digital e a cada célula ou elemento da imagem (“pixel”, compressão do inglês ‘picture element’) é atribuído um valor digital proporcional ao número de fótons em entrada naquele pixel (o brilho da parte da imagem que recai naquele pixel). Este é o mesmo tipo de detector usado em uma câmera de vídeo de mão, embora até recentemente a conversão analógico-digital fosse omitida em dispositivos mais baratos.
Se você apontar uma câmera de vídeo para uma fonte de luz muito forte (como o Sol), a imagem “floresce” ou clareia completamente — há tantos elétrons produzidos nos pixels correspondentes à fonte luminosa que eles transbordam para fileiras e colunas adjacentes, talvez para todo o detector. CCDs melhores só irão “sangrar” ao longo da direção de leitura rápida (uma única fileira), e talvez para algumas fileiras adjacentes.
As câmeras CCD LASCO e EIT incluem sistemas eletrônicos “anti-sangramento” que limitam o sangramento de pixels em torno de fontes luminosas para menos que uma fileira completa (e normalmente nenhuma fileira adjacente). No caso de um objeto marginalmente muito luminoso, o sangramento de pixels será de apenas alguns pixels em qualquer direção ao longo da direção de leitura rápida. Daí vêm as imagens de “discos voadores”.
Algumas das imagens LASCO que apareceram em websites “extraterrestres” mostram características muito maiores e luminosas, mas ainda em forma de discos voadores. Estas imagens são obtidas na realidade com a porta de instrumentos fechada, mas com uma exposição inadequadamente longa. Os grandes “discos” são o resultado de um maciço sangramento de pixel ao longo de toda fileira do detector contendo a parte da imagem da “opala”, ou lente difusora pequena na porta de instrumentos, que é usada para obter dados de calibração.
Se seus correspondentes ainda preferirem acreditar que as imagens de planetas ou estrelas luminosas com espalhamento de pixel são qualquer outra coisa, pergunte a eles por que a parte estendida dos “discos” (i.e. o espalhamento de pixels) sempre ocorre na mesma direção relativa à imagem — até mesmo quando a astronave se move em sua orientação normal relativa ao Sol.
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Mais
– Uma outra explicação, segundo esta página de um membro da equipe SOHO/LASCO, é a de que algumas das imagens seriam formadas por objetos passando próximos da câmera, refletindo a luz solar. O aspecto alongado e com largura variante decorreria do longo tempo de exposição envolvido, superior a 10 segundos. Seria algo similar às imagens de ‘Rods’, formadas através da captura inadequada em vídeo de insetos em vôo.
– Curiosamente, uma das páginas mais citadas na internet sobre as ‘anomalias’ SOHO/LASCO é em português: As melhores imagens enigmáticas de SOHO.