O Magnésio de Ubatuba
por John Harney, original em Magonia
Pegue um fragmento de metal, preferivelmente uma amostra não muito comum, e jogue-o no mundo OVNI, acompanhado por uma história alegando que é um pedaço de um disco voador. Então se sente e espere os resultados. Ou somente proverá, por pouco tempo, material para sustentar as fantasias de alguns dos mais crédulos ufologistas ou, com um pouco de sorte, chamará atenção mais séria.
Sem dúvida a controvérsia mais forte e prolongada relativa a supostos fragmentos de discos voadores começou no Rio de Janeiro, em 1957.
Brevemente – como a história foi contada em outro lugar de forma longa – (1) a evidência veio à luz quando o colunista do Rio, Ibrahim Sued, informou no jornal O Globo que tinha recebido uma carta misteriosa. O correspondente anônimo escreveu que ele e alguns amigos viram um disco voador que explodiu em chamas sobre uma praia perto de Ubatuba, São Paulo. Ele se desintegrou em milhares de fragmentos ígneos que caíram no mar. Alguns caíram perto da costa e foram coletados pelas testemunhas. Alguns destes fragmentos foram enviados a Sued com a carta. Esta história chamou a atenção do renomado investigador de OVNIs, o falecido dr Olavo T. Fontes.
Fontes obteve estas amostras e as submeteu ao Laboratório de Produção Mineral, um departamento do Ministério de Agricultura brasileiro. O material foi submetido a uma análise espectrográfica e o relatório somente indicou que mostrava a presença de magnésio (Mg) a um grau alto de pureza e ausência de qualquer outro elemento metálico. O dr Fontes não estava satisfeito com este relatório e tentou obter uma análise mais detalhada. Um segundo teste espectrográfico confirmou o primeiro resultado. Outras amostras foram posteriormente analisadas usando técnicas mais refinadas. Eventualmente, depois de estudar os relatórios das análises e dados técnicos pertinentes nos métodos industriais usados para refinar magnésio, Fontes chegou à conclusão de que o magnésio era de um grau superior de pureza que não poderia ser obtido por qualquer processo de refinação conhecido naquela época. Em seu relatório, publicado internacionalmente por Coral Lorenzen, ele partiu para especular sobre discos voadores feitos de magnésio.
O argumento usado por Fontes e repetido por outros partidários da ETH era que como o magnésio era mais puro que qualquer um que poderia ser fabricado na Terra, deveria ter sido produzido por uma civilização superior em algum outro planeta.
Os membros do Colorado Project, em sua procura por evidência física que poderia tender a apoiar a ETH, obtiveram amostras dos fragmentos de magnésio de Ubatuba e os enviaram para análise pelo Departamento de Laboratório Nacional. O método escolhido era aquele conhecido como análise de ativação de nêutrons. Para comparação, uma amostra triplamente sublimada de magnésio foi adquirida da Dow Companhia Química. A amostra era semelhante a amostras que a companhia tinha provido por encomenda durante pelo menos 25 anos.
Descobriu-se que ambas as amostras continham proporções muito pequenas de impurezas, mas o padrão de impurezas era diferente. O magnésio de Ubatuba continha aproximadamente 500 p.p.m. (partes por milhão) de zinco, contra 5 na amostra da Dow, e 500 p.p.m. de estrôncio que não foi achado na amostra da Dow. Porém, de acordo com o Relatório Condon, os registros do Laboratório Metalúrgico da Dow foram checados e revelaram que a companhia tinha feito grupos experimentais de magnésio que continham várias proporções de estrôncio. Já em 1940 tinha produzido um grupo de 700 gm de magnésio que continha nominalmente a mesma concentração de estrôncio que foi observada na amostra de Ubatuba. A conclusão do Projeto era que não havia nada estranho ou sobrenatural na composição do fragmento de Ubatuba e que não havia nenhuma razão para supor assim que eles eram de origem extraterrestre. (2)
Um cientista que discordou com os achados do Projeto foi o dr David R. Saunders, que foi excluído do Projeto pela dr Condon por incompetência, no rastro do famoso incidente do memorando Low. Saunders dedicou um capítulo às amostras de Ubatuba em seu livro sobre o Comitê Condon. (3) Nele ele discute que a significação do magnésio de Ubatuba reside nas impurezas que ele não contém. Saunders escreveu:
Se o fragmento fosse magnésio terrestre ultrapuro, deveríamos esperar achar uma de quatro condições.
Porém, uma amostra que contém 500 p.p.m. de zinco e estrôncio dificilmente pode ser descrita como ultrapura quando comparada com a amostra da Dow que continha não mais que 5 p.p.m. de quaisquer das 8 impurezas listadas na tabela de comparação das amostras no Relatório Condon. Saunders não menciona a amostra da Dow. Saunders continua:
–Se a amostra fosse uma liga terrestre de magnésio, poderia ter contido alumínio ou cobre ou ambos. Não havia nenhum alumínio e só um traço de cobre.
De acordo com o Relatório Condon, nenhum alumínio foi achado na amostra da Dow, que ainda continha apenas 0,4 ppm de cobre contra 3.3 no magnésio de Ubatuba.
–Se alguém tivesse feito um esforço sério para purificar a amostra, o elemento mais difícil de remover teria sido cálcio. Não havia nenhum.
–Se alguém tivesse feito um trabalho singularmente bom em remover o cálcio, teria feito certamente o uso de um recipiente de quartzo. Isto teria introduzido quantias pequenas de silício na amostra. Os testes do FBI mostraram que nenhum silício estava presente.
Não são mencionados cálcio e silicone no Relatório Condon sobre a análise.
–Se alguém tivesse usado as melhores técnicas disponíveis purificar magnésio em 1968, teria empregado sublimação repetida do metal sob um vácuo muito alto. Uma bomba de vapor de mercúrio seria exigida para produzir este vácuo, resultando em contaminação de mercúrio do produto. Não havia nenhum mercúrio na amostra de Ubatuba.
De acordo com o Relatório de Condon, nenhum mercúrio foi descoberto no magnésio de Ubatuba, mas 2.6 p.p.m. foi descoberto na amostra da Dow. Roy Craig, o autor desta seção do Relatório Condon, não faz nenhum comentário sobre a ausência de mercúrio da amostra de Ubatuba, presumivelmente ele e seus assessores não consideraram isto como de qualquer grande significação.
Saunders deduz de seus argumentos, particularmente o sobre a ausência de mercúrio, que pode ser dito que a amostra é 100 por cento pura, já não há nada nela por acidente. Porém, aparte a ausência de alumínio e mercúrio, a amostra de Ubatuba tem maiores proporções de cada uma das outras seis impurezas listadas no Relatório Condon quando comparada à amostra da Dow.
O leigo pode ser perdoado talvez por supor que, como a amostra de Ubatuba possuía quantidades maiores de impurezas que a amostra da Dow, então deve ter sido fabricada por alguma outra companhia química, por um processo diferente.
Aparte as discussões técnicas relativas à composição das amostras de magnésio, o caso de Ubatuba foi mantido vivo durante os anos por meio de suposições não comprovadas sobre sua origem. Por exemplo, os Lorenzens escrevem: (4)
Que o material não é 100% puro magnésio não minora o impacto do caso, visto que nós ainda temos que explicar como aquele magnésio chegou a uma área de praia remota naquele momento. Que tipo de máquina era o objeto discóide brilhante que explodiu?
Na realidade, nós não temos que explicar qualquer coisa do tipo, uma vez que não há nenhuma evidência convincente de que as amostras vieram de um disco voad
or, ou de que foram apanhadas de uma praia em Ubatuba, ou em qualquer outro lugar. As amostras vieram à luz no escritório de um colunista da sociedade do Rio, onde chegaram pelo correio. O escritor da carta que acompanha as amostras e suas outras alegadas testemunhas do avistamento do OVNI nunca foram localizados.
A conclusão mais racional neste caso é, claramente, que o caso de Ubatuba foi uma fraude. Deve ser considerada uma das fraudes de maior sucesso na história da ufologia, em vista do tempo e dinheiro gasto e a quantidade de perícias técnicas desperdiçadas nele.
Referências
1. Fontes, Olavo T. A report on the investigation of magnesium samples from a UFO explosion over the sea in the Ubatuba region of Brazil , published as a chapter of The Great Flying Saucer Hoax, by Coral E. Lorenzen, William Frederick Press, New York/APRO, 1962
2. Gillmor, Daniel S. (ed.) Scientific Study of Unidentified Flying Objects, Bantam Books, New York, 1968
3. Saunders, David R. and Harkins, R. Roger. UFOs? Yes! Where the Condon Committee Went Wrong, Signet Books, New York, 1968
4. Lorenzen, Coral and Jim. UFOs, the Whole Story, Signet Books, New York, 1969
E as testemunhas do ovni de Ubatuba? Isso aconteceu durante o dia, meu vizinho era testemunha e narrou por diversas vezes o que viu, para quem quisesse ouvir!