Uma década sem Sagan

Nós somos uma maneira do Cosmos conhecer a si mesmo” — Carl Sagan

Há dez anos, em 20 de dezembro de 1996, falecia o já lendário astrônomo e popularizador de ciência Carl Edward Sagan. Este blog se junta ao blog-a-thon celebrando suas contribuições à humanidade. Como Ann Druyan, viúva de Sagan, escreve em seu sítio oficial:

“É provável que, se você veio aqui para se juntar a mim em um ato de recordação neste décimo aniversário da morte de Carl, você já conheça bem as numerosas realizações científicas e culturais do homem. É provável que você saiba que ele desempenhou um papel principal na exploração de nosso sistema solar, que ele acrescentou algo a nosso conhecimento das atmosferas de Vênus, Marte e Terra, que ele abriu caminho a novos ramos de investigação científica, que ele atraiu mais pessoas ao empreendimento científico que talvez qualquer outro ser humano e que ele era um cidadão consciencioso tanto da Terra como do cosmo. Talvez você seja um de muitos que foi levemente empurrado a uma trajetória de vida diferente pela atração gravitacional de algo que ele disse ou escreveu ou sonhou. Em minha estimativa parcial, ele era uma figura histórica mundial que nos incentivou a deixar a espiritualidade geocêntrica, narcistista, “sobrenatural” de nossa infância e abraçar a vastidão — amadurecer ao tomar as revelações da revolução científica moderna de coração”.


Placa nas sondas Pioneer, uma “mensagem na garrafa interestelar“, projetada por Sagan e Frank Drake, e desenhada por Linda Salzman Sagan.

Não posso me expressar tão bem quanto Druyan, mas seguindo a sugestão do blog-a-thon, contarei algo de meu contato com o homem dos bilhões. Descobri Sagan já bem depois que sua histórica série de TV havia sido exibida no país. Foi através do livro Os Dragões do Éden, uma obra-prima que deve agradar qualquer pessoa viva ainda capaz de se fascinar com mitologia, no melhor sentido da palavra, e ciência, em sua mais empolgante versão. Continua sendo um de meus livros preferidos, mas foi sua última obra — O Mundo Assombrado pelos Demônios — que de fato “mudou minha vida“. Não foi algo tão simples quanto aceitar a palavra de Sagan em minha vida. Enquanto lia “O Mundo Assombrado…”, ainda acreditava em assuntos como discos voadores, telepatia e conspirações mundiais. Depois de lê-lo, continuava acreditando, mas — não conte a ninguém — hoje sou mais cético com relação a tais assuntos. Em retrospecto, penso que a vela acendida por Sagan ajudou a elucidar muitos caminhos, e curiosamente é a luz crítica apontada por ele que permitiu que meu interesse por tais temas não só atravessasse minha adolescência, como continuasse crescendo. E reforçasse a máxima de que a ciência verdadeira é o melhor ferramenta de que dispomos para investigá-los.

Apesar de alguns defenderem o contrário, devemos ser céticos e nos atermos à evidência: Carl Sagan era apenas um ser humano, cheio de erros e limitações, apesar de todas suas realizações. E mais vale falar delas. Além daquelas listadas por Druyan, os leitores deste blog podem estar insteressados em algumas em particular.

Seu primeiro livro, em co-autoria com o cientista soviético I.S. Shklovskii em plena Guerra Fria, foi “Vida Inteligente no Universo“, em 1966. Nele, Sagan defendia a existência da mesma pela Galáxia, e chegou mesmo a lidar com a hipótese de que teríamos sido visitados por extraterrestres na Antigüidade. No livro, repetindo, de 1966, o astrônomo já mencionava uma certa tabuleta suméria que parecia exibir dez planetas — elemento que seria explorado à exaustão por um pesudocientista décadas depois. Pelo menos até que decidissem que só temos oito planetas no sistema solar.

No mesmo ano Sagan seria consultor do Projeto Livro Azul de pesquisa de OVNIs pela Força Aérea Americana, e alguns anos depois seria co-organizador de um congresso sobre o assunto realizado na AAAS, “a maior organização científica do mundo” que edita a canônica Science. Algo histórico para aqueles aficcionados por discos. Em tal congresso, ufólogos como Hynek e McDonald foram ouvidos. Como se deve imaginar, Sagan teve que lidar com enormes pressões contrárias, e ganhou inimigos na comunidade científica por seu papel fundamental na realização de tal congresso. O material foi publicado em 1972 como um livro, UFO’s: A Scientific Debate. No final, contudo, a incapacidade dos ufólogos de apresentar provas à comunidade científica a despeito da oportunidade dourada oferecida de bandeja explica por que o interesse de Sagan pela ufologia diminuiu drasticamente depois disto.

Além do envolvimento com a ufologia, podemos encerrar este post contando como nosso herói salvou o mundo. Ou quase. No início dos anos 1980, com a revitalização da Guerra Fria, um novo conceito se popularizou pelo mundo quando se pensava em uma Terceira Guerra Mundial. Era o Inverno Nuclear, que garantiria que não haveria nenhum ganhador. Sagan foi um dos cinco autores do estudo que deu apoio à hipótese e lançou o conceito à larga discussão, apoiando movimentos pacifistas pelo globo. Pode não ter sido tão espetacular quanto girar o mundo ao contrário para voltar no tempo, de fato o “inverno nuclear” nem foi tão decisivo para o fim pacífico da Guerra Fria. Mas foi apenas mais uma da longa série de contribuições à humanidade de Carl Edward Sagan, que faleceu neste dia, há dez anos atrás. Sentimos sua falta.

9 comentários sobre “Uma década sem Sagan

  1. ” o mundo assombrado..” é ainda hoje (eu o li a tempos), meu livro de cabeçeira. Gostaria de ter agradecido a ele o novo rumo que este livro me deu.

  2. Conheci Carl Sagan hoje,mas gotei muito do seu ceticismo;pensei que ele ainda estivesse vivo,acabei de descobrir que não está mais entre nós,é uma pena mesmo.

  3. Uma década sem Sagan………
    Devo muito a este grandioso ser humano, que infelizmente não está mais entre nós. Suas idéias me deram uma nova visão sobre a vida e sobre o cosmos……

    Obrigado por tudo Sagan…..

  4. CONHECI CARL SAGAN ATRAVES DE DOCUMENTARIOS NA TV , QUE HOMEM INCRIVEL, PENA QUE SE FOI,IMAGINO O MUNDO COM VARIOS CARL SAGAN COM CERTEZA SERIA MUITO + AGRADAVEL.
    DEUS O TENHA…
    T+
    CESAR

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